sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A cultura do medíocre

iLeopardDayImage by Imagine24 via Flickr


António Campos

A par de uma escola cada vez mais informativa e menos formativa caminham os mass media, com especial relevo para essa caixinha mágica chamada televisão. Os notáveis avanços trazidos pela televisão são, hoje, cada vez mais pervertidos, paradoxalmente, pela qualidade dos programas e pelo conteúdo das mensagens transmitidas.

A televisão de hoje, pautada por guerras de audiências, nada mais é do que um repositório de vulgaridades, de mau gosto e de violência. Não sou dos que acham que televisão deve traduzir os gostos mais selectivos de uma elite reduzida. A televisão deve ter um componente informativo, formativo, de entretenimento, de prazer. A televisão deve ser construída a pensar em todos os tipos de audiências. Das mais diferenciadas às menos diferenciadas. (...)

A vulgaridade e a ordinarice mais primária de que alguns dos nossos principais comediantes usam e abusam é também reflexo dos tempos que correm. O sensacionalismo fácil de manchete, a difamação fácil e o boato escorreito, o atentado ao bom nome, fazem parte do quotidiano de grande parte dos mass media. Mas não se pense que são só os mass media os principais culpados de toda esta situação. (...) É, pois, paradoxal como é que exigimos e investimos cada vez mais em educação, e cada vez mais temos uma cultura rasca.

A sociedade de hoje é, cada vez mais, uma sociedade com mais informação, e menos informada. Com mais escolaridade, e com menos educação. Com menos analfabetos, e mais aculturados. Com mais livros, e com menos leitores. Com mais meios, e mais mal utilizados. O rasca, o medíocre, ganhou estatuto. Nos dias de hoje, é ponto assente que, quanto pior, melhor. Quanto mais medíocre, mais divulgado.

O reflexo desta cultura, deste modo de estar, desta forma de a sociedade se relacionar, terá consequências nefastas para as próximas gerações. As tensões sociais, os conflitos potenciais entre indivíduos e classes, os choques de interesses, o predomínio do táctico sobre o estratégico, o clima de violência latente, constituirão muito em breve uma mistura explosiva. Não ter consciência da degradação desta sociedade pretensamente evoluída é o primeiro sinal de decadência. Mudar ou não esta realidade social condicionará definitivamente a nossa vida nas próximas décadas.

Mais do que mudança de governos ou a vitória do partido A ou B. Assumirmos uma nova cultura de equilíbrio, da qualidade, do saber, da excelência, será o primeiro sinal de que vamos saber construir uma sociedade diferente para gerações que se pretendem diferentes.

Jorge Penedo, in A Capital (adaptado)


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