segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A interacção social nas sociedades contemporâneas

RAM6: SOCIAL INTERACTION & COLLECTIVE INTELLIGENCEImage by Technologies To The People via Flickr


António Campos

Ao contrário do que se passa nas sociedades tradicionais, nas sociedades modernas estamos constantemente a interagir com outras pessoas que nunca vimos ou conhecemos. Praticamente todos os nossos encontros quotidianos, como as compras no supermercado ou uma ida ao banco, fazem-nos entrar em contacto - indirecto, não obstante - com pessoas que poderão viver a milhares de quilómetros de distância. Algumas pessoas receiam que os rápidos avanços na tecnologia da comunicação, como o correio electrónico, a Internet, o comércio on-line, venham apenas aumentar esta tendência para haver cada vez mais interacções indirectas. De acordo com esta perspectiva, as pessoas estão a isolar-se crescentemente, à medida que o ritmo de vida aumenta: interagimos hoje em dia mais com os nossos ecrãs de televisão do que com os vizinhos ou membros da mesma comunidade. Além disso, na comunicação indirecta, na Internet, o espírito está presente, mas o corpo está ausente, não se observam os movimentos faciais, corporais, os gestos com as mãos, etc.

Muitos adeptos da Internet não estão de acordo, argumentando que, longe se ser impessoal, a comunicação on-line tem muitas vantagens próprias, que as formas de interacção mais tradicionais, como o telefone e o encontro face a face, não partilham. A voz humana, por exemplo, pode ser superior em termos de expressão de emoções e subtilezas de sentido, mas pode também passar informação acerca da idade, género, raça ou posição social do emissor - informação que pode ser utilizada em seu prejuízo. Ainda segundo estes, a comunicação electrónica disfarça todos estes elementos identificativos, garantindo que a atenção se foca estritamente no conteúdo da mensagem. A interacção electrónica é muitas vezes apresentada como algo que liberta e confere poder, uma vez que as pessoas podem criar as suas próprias identidades on-line e falar de uma forma mais livre do que o fariam noutros contextos.

Quem tem razão neste debate? Até que ponto a comunicação electrónica substitui a interacção face a face? Não há dúvida que as novas formas de comunicação estão a revolucionar a forma como as pessoas comunicam, mas, mesmo numa altura em que é cada vez mais fácil a interacção de forma indirecta, os seres humanos continuam a valorizar o contacto directo - talvez ainda mais do que antes. As pessoas no mundo dos negócios, por exemplo, não deixam de estar presentes em reuniões (às vezes tendo mesmo de viajar de avião através de meio mundo), quando aparentemente seria muito mais simples e eficaz negociar através de vídeo ou teleconferência. Os membros de uma família poderiam tratar de arranjar reuniões virtuais ou encontros em dias de festa com recurso a comunicações electrónicas «em tempo real», mas não há ninguém que deixe de reconhecer que assim sentiriam a falta da proximidade e intimidade das celebrações face a face.

Giddens, A. (2004) (adaptado)


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