segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Tatuagens e piercings - sinais dos tempos

HellForSaleDetailImage by [ZicoCarioca] via Flickr


António Campos

A lista de dimensões relacionadas com a “cultura do corpo” e as novas indústrias do lazer hoje muito difundidas nas sociedades urbanas desenvolvidas, é enorme.
Os estilos de vida reflectem a especificidade de valores, atitudes e comportamentos dos indivíduos e dos grupos, contribuindo para a construção de identidades pessoais e colectivas, e ligando-se por isso às diversas subculturas.

Desde tempos remotos que o homem grava símbolos da sua cultura na pele. Para os índios Sioux, e já para os Egípcios também era assim, tatuar o corpo servia como meio de expressão religiosa ou mágica. (...) Para algumas comunidades primitivas das ilhas do Pacífico, o acto de pintar o corpo marcava a passagem da infância para a maioridade. E funcionava também como sinal de ascensão social: quanto mais tatuado fosse o indígena, mais elevado era o seu estatuto na tribo.

Já no Japão feudal, diz-se, as coisas eram diferentes. Neste caso, as tatuagens eram usadas, ao que parece, como forma de punição. Daí talvez a conotação, ainda hoje presente nas sociedades ocidentais, das tatuagens com determinados movimentos marginais e grupos específicos, tais como marinheiros, soldados e presidiários. (...)

Mas apesar das contra-indicações - a dor, o carácter permanente, o risco para a saúde, os preconceitos -, o uso de tatuagens e piercings deixou de ser apenas uma prática simbólica de grupos marginais ou movimentos contestatários da sociedade. Passou a ser apropriado pela cultura de consumo, explorando o fascínio pelo "diferente" e pelo "exótico". "Ser diferente", ao que parece, é uma das motivações mais frequentemente apontadas para a realização de tatuagens e piercings.

"Diferente", note-se, tanto pode significar exclusão em relação à sociedade pela recusa dos modelos instituídos, como pode representar uma mera demarcação estética, em termos de aparência física. Tanto assim é que há uns anos para cá alguns estilistas passaram a incorporar estes símbolos nas suas colecções, utilizando a tatuagem e o piercing como acessórios de moda. Por uma razão ou por outra, o facto é que cada vez mais pessoas se dispõem a gravar na pele figuras que cativam, excitam, interpelam e embelezam os corpos.

Em consequência, assiste-se não só à mercadorização destas práticas, traduzida, nomeadamente, na proliferação de ateliers de tatuagens e piercings nos principais centros urbanos, mas também à sua artificialização, graças ao desenvolvimento de uma indústria de produtos, como as tatuagens temporárias, ou à oferta de serviços de remoção de tatuagens tradicionais, que permitem alargar o leque de utilizadores e aumentar a aceitação social destas práticas.

J. M. Marques Apolinário, (adaptado)



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