sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O pecado através dos tempos (V)



 
 5. A garantia

É verdade que a teoria do pecado é fruto dos cultores da letra, saibam ou não escrever, como aconteceu até ao século XI, produzam ou não conhecimento, como acontece até hoje, especialmente quando o saber e a qualidade do Espírito Santo assiste à cátedra, isto é, ao Papado. Mas também é verdade que o que dizem os letrados não é bem entendido pelo povo, que tem a sua própria teoria das acções. Em primeiro lugar, o que os letrados definem tem por limite a possibilidade de governar o povo dentro de limites que não impeçam o trabalho: quer na compilação canónica do bispo Graciano, a partir do século XI, quer na preocupação teológica e económica de Tomás de Aquino com preços, usura, justiça e riqueza; quer ainda na compilação canónica do papa actual; a regulamentação tem um conjunto de excepções, e que faz da excepção a regra para saber como agir na realidade.

Cuidadosamente divididos os pecadores, – que tentam, induzem, e fazem as formas, pensamento, acção, bem como os conteúdos e as fontes – soberba, luxúria, ira, gula, inveja, preguiça, as interdições são transmitidas à população por via da palavra. Apropriada pela Igreja como forma de governo que tem por destino negro a culpa e o Inferno com um Purgatório que foi criado para sua credibilidade na Idade Média, a teoria do pecado é a que aplica um grupo social, cuja conduta é o resultado da memória oral, em que o que se faz é resultado da memória cuidadosamente repartida entre todos os indivíduos segundo a idade e condição, cuidadosamente desenvolvida ao longo do ciclo da vida. Assim, os Maori decidiram que cada filho não casado seja irmão da sua mãe, e o pensamento judeu cristão criou um código ético que crentes e não crentes vão praticando conservadoramente para que não se esqueçam, numa perspectiva de solidariedade que incentiva o convívio dos pequenos grupos de trabalho onde se processa a vida social urbana ou rural, e que garanta a sanção da acção positiva, em direcção ao bem. O mesmo princípio que a cultura letrada usa na lei, e que Mill (1861) e Freedman (1979) recolheram: quem peca é quem, para a teoria dominante da reprodução social, não sabe manipular os seus corpos e bens de acordo com os padrões definidos, conjunturalmente, do agir. E é o que a Igreja Católica Romana tem acautelado através dos tempos. O pecado garante, assim, a produção da sociedades aos recursos produtivos que prevalecem num tempo histórico e ajustam o pensamento à acção desejada para os obter.


FIM


Raul Iturra

Julho 2011

No Aventar

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