quinta-feira, 28 de maio de 2009

A loucura da normalidade

Happy Mother's Day Mom!Image by kevindooley via Flickr




António Campos


Provavelmente muitos professores já passaram por situações de indisciplina ou até de violência com os alunos. Esta é, por isso, uma problemática muito actual, tanto mais que quase diariamente tomamos conhecimento pelos órgãos de comunicação social, de casos de alunos que desrespeitam e até agridem professores. Porquê este tipo de comportamentos? Propus-me investigar algumas causas possíveis e, a meu ver, importantes.

Assim, a abordagem que me proponho fazer assenta num estudo de Arno Gruen, cujo título é também o deste artigo. Segundo o autor vivemos numa sociedade com múltiplas situações de perturbações das crianças, dos jovens e dos adultos. Quando as crianças começam a perder a consciência do seu eu próprio, dá-se um acto de autotraição. Este processo começa quando as crianças deixam de aperceber-se dos sentimentos dos pais e das mães de uma forma instintiva, passando a reger-se pela maneira delas se verem a si próprias.

Este tipo de adaptações às necessidades de poder dos pais leva a uma cisão na estrutura psicológica das crianças, a qual desliga o seu mundo interior das suas interacções com o exterior. Quando uma pessoa perde o contacto com o seu interior, só pode recorrer a um eu falsificado: a imagem que se pauta por determinado tipo de comportamento e por atitudes que agradam aos outros.

A necessidade de preservar tal imagem, sobrepõe-se a tudo o que poderiam ter sido percepções, sentimentos e vivências empíricas genuínas. E como não se trata de um “fado” e cada qual colaborou, mais ou menos conscientemente, na sua própria submissão, uma pessoa desenvolve um ódio vitalício a si própria. O terrível, é que, só a destruição faz uma pessoa sentir-se viva.

Ao mesmo tempo que os que não aguentam a perda dos valores humanos no mundo real são considerados loucos, atesta-se a normalidade àqueles que se separam das suas raízes humanas. E se uma pessoa renegou o seu próprio eu, porque esse teria sido posto em perigo o seu poder, sentimentos vingativos começam a reger a sua vida. Insiste-se em ser-se amado por causar sofrimento aos outros.

Quanto à identificação, mais frequentemente do que nos apercebemos, não conduz a uma identidade própria mas, sim, a que esta seja evitada.

Em relação aos desenvolvimentos para o conformismo e para a rebelião têm muitos pontos comuns e estão fundamentados na atitude perante a “má” mãe. Enquanto o conformista defende a “má” mãe como sendo “boa”, o rebelde procura a “boa” mãe, sendo o seu modo de agir, na realidade, determinado pela influência da “má” mãe.

A linguagem do coração provém das profundas necessidades de amor e calor, que queremos tanto dar como receber. Mas a nossa sociedade tornou-nos medrosos e faz-nos sentir vergonha quando nos sentimos vulneráveis. A linguagem da realidade promete aliviar-nos do “fardo” das nossas necessidades, o que nos predispõe para deixarmos de confiar nas nossas próprias percepções. Por isso, a linguagem do coração é a nossa única salvação. Temos de ultrapassar a divisão, não aderindo à lógica duma pretensa realidade, mas insistindo na conservação da própria capacidade de compaixão, de sentir o sofrimento e a alegria.

O que podemos concluir é que a falta de amor verdadeiro nas nossas interrelações, nomeadamente na família e a falta de coordenação com outros agentes de socialização, conduz a problemas comportamentais que são por vezes irreversíveis, quando os jovens já têm mais idade. A escola torna-se o reflexo de muitas perturbações sociais e afectivas mal resolvidas ou já sem solução. Para além de dificuldades organizativas e pedagógicas reais, as carências afectivas impedem que o sucesso escolar seja maior e mais verdadeiro e que os professores e os alunos se sintam mais felizes.




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