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António Campos
A discussão sobre a pobreza, sua quantificação, origens, causas e possíveis tentativas de resolução é complexa, configurando-se num tecido feito de muitas tramas que se interligam com histórias, rostos e realidades diferenciados e em contextos igualmente diferenciados. Se buscarmos agir sobre o tecido como um todo - a pobreza -, não teremos muito êxito. Mas, se aprendermos a olhar com sensibilidade e compromisso e a agir sobre cada trama social e económica, aumentaremos, em muito, as possibilidades de acção, visando a sua resolução.
Pobreza não é, e nunca foi, um fenómeno homogéneo. À medida que os fios da trama da renda, do emprego, da provisão e acesso aos serviços públicos se interpenetram e se cruzam com as barreiras e os bloqueios ao exercício da cidadania de diferentes grupos sociais, a definição e a compreensão em torno da pobreza mudam, bem como os programas, as políticas e os projectos a serem implementados para sua erradicação.
Falar em pobreza é argumentar sobre a incapacidade de uma sociedade de assumir como tarefas cívicas obrigatórias a redução das desigualdades, o aumento das oportunidades e a redistribuição das riquezas. Hoje o problema não está em descobrir o que causa e gera pobreza, mas em identificar os múltiplos factores, sejam culturais, económicos ou sociais, que estão impedindo sua erradicação - e agir sobre eles.
Infelizmente, possíveis soluções e caminhos visando enfrentar o problema da pobreza ou a sua erradicação não constituem ainda uma acção articulada, de co-responsabilidade, entre Estado, sociedade civil e empresas privadas. A razão para esse distanciamento pode ser explicada, de um lado, pela desconfiança natural de culturas organizacionais bastante diferenciadas, em que valores éticos e religiosos nem sempre prevalecem nas escolhas e prioridades programáticas.
De outro lado, essa dificuldade de haver um maior entendimento em termos de co-responsabilidade e de co-participação na gestão do social pode ser herança de uma visão simplificada sobre a pobreza, que vem sendo construída ao longo dos anos e se contrapõe à noção de equidade e justiça social. Buscar uma visão mais compartilhada talvez seja um bom primeiro passo.
Por fim, entender que não há pobreza, mas “pobrezas” pois há-as nos mais diversos domínios e nos sentidos mais diversos. Cada realidade social tem o seu tipo específico de pobreza, as suas características próprias, sejam económicas ou culturais. Mas que é verdade é, há cada vez mais pessoas em situação de pobreza, quer nos países mais pobres quer nos países mais desenvolvidos.
Dever-se-á de modo proactivo, procurar que a riqueza social seja mais equitativamente distribuída e a sua realização ser um motivo de orgulho e de realização pessoal e social e não o inverso como se verifica.
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