terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Actual Civilização

Canada's Museum of CivilizationImage by ViaMoi via Flickr

António Campos



Hoje, mais do que antes, a vida é uma luta onde a pior das fraquezas consiste em não ter dinheiro e o único ideal recomendável é ganhar dinheiro. Essa fraqueza e esse ideal bastam para avaliar a presente civilização. Ela não transforma o mundo num lugar aprazível, nem torna o ser humano melhor. As guerras, a violência, a miséria, a pobreza, a opressão do ser humano pelo ser humano, o salariato,  e a exploração da natureza pelo ser humano, etc., têm demonstrado que a civilização só se desenvolve produzindo-as; elas são indispensáveis ao seu funcionamento.
Funcionamento que se alimenta no progresso, isto é, no constante crescimento das necessidades. Quanto mais aumentam as necessidades e as exigências da «humanidade», ditadas pelos especialistas de gosto e paladar das massas, tanto mais trabalho é necessário para as satisfazer. Assim, a sociedade humana mais civilizada é aquela que trabalha mais. O resultado deste progresso é o de conseguir absorver todos os instantes do indivíduo, assegurando as suas necessidades materiais, lúdicas, espirituais, culturais. E interditando, seja em que momento for, que o indivíduo se ocupe de si próprio e que desenvolva o mais possível autonomamente o seu carácter singular. Chegamos assim, já o sentimos, a uma cada vez maior artificialidade da vida. A nossa civilização ao beneficiar predominantemente o Ter em todos os domínios da vida social, contribuiu ao gregarismo dos espíritos e à despersonalização. A singularidade dos indivíduos é esmagada pelo nivelamento supostamente igualitário.
Todas as grandes cidades são parecidas de Singapura a Nova Iorque, passando por Lisboa, os mesmos hediondos edifícios habitados por zombis que se alimentam de produtos químicos e congelados, vendo as mesmas séries televisivas e ouvindo as mesmas músicas pré-fabricadas. Toda a classe política debita os mesmos discursos de uma ponta a outra do planeta. Trezentos e sessenta dias por ano: «Progresso, inovação, desenvolvimento, blá, blá…». Para mudarmos as coisas não basta erguermo-nos contra este ou aquele governo ou contra a forma estatal de organização das sociedades e promover o associativismo baseado numa relação pacífica com a natureza, nas liberdades, no respeito pelo outro, na ajuda mútua. Torna-se imperioso rejeitar o progresso, questionarmos as potencialidades libertadores da tecnologia, criticarmos a ideia de neutralidade da indústria, da técnica, uma simples ferramenta que só tem de estar em boas mãos.
Mas, as coisas só mudam se os indivíduos pensarem com a sua própria cabeça em vez de confiarem a existência e a liberdade aos poderes exteriores. Livre e responsável, o indivíduo encontra o seu próprio poder e as suas potencialidades, ficando apto para fazer e assumir as suas próprias escolhas. Sem a vitória do indivíduo sobre ele próprio, sem essa libertação profunda de si mesmo, tudo restará ilusório. Porém, se essa libertação se concretiza, podemos conceber para breve o afundamento geral da nossa orgulhosa civilização.
(autor desconhecido)

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