terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Seniores com direito... para gozarem de mais saúde

old people playing instruments at Xihu (Hangzhou)Image by whitecat singapore via Flickr



António Campos


A Constituição da República é generosa com as suas propostas quanto às políticas públicas referentes aos idosos. De facto, o seu artigo 72º prevê que os seniores têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal. A Lei Fundamental prevê uma política de terceira idade e que os seniores têm direito a uma pensão de velhice. Esta directriz, como é sabido, tem recebido alguns impulsos altamente positivos, mas muito há a fazer. Continuamos a viver no mundo que está a envelhecer mas onde nem todos reconhecem os idosos como um recurso valioso. A promoção da solidariedade inter-geracional continua a ser um objectivo longínquo e as medidas de apoio aos seniores, na maior parte dos casos, são tomadas avulsamente. Não deixa de assombrar o que se está a fazer nas autarquias quanto a iniciativas orientadas para seniores em áreas como: apoio domiciliário; programas de actividade física; eventos de convívio, programas culturais, excursões, etc.

Concretamente os seniores têm direito a quê? Têm direito a acompanhamento, de acordo com a sua escala de limitações, a viverem no seu domicílio pelo tempo que for viável; a permanecerem integrados na sociedade; a serem incentivados a prestar serviços à comunidade, trabalhando com voluntários, de acordo com os seus interesses e capacidades; a terem acesso a serviços sociais e jurídicos que lhes assegurem melhores níveis de autonomia, protecção e assistência. Este conjunto de direitos expressa-se em assistência médica, em acesso a recursos educacionais, culturais e espirituais e a ser tratado com dignidade.

É interessante observar que muitos seniores permanecem autónomos até idades tardias, desempenhando funções de grande influência, liderando movimentos associativos e mantendo-se ligados à estrutura familiar. O envelhecimento com dignidade prende-se com os cuidados do indivíduo e da comunidade e a capacidade de poder semear afectos ao longo da vida e até planear o seu próprio envelhecimento.

Um estilo de vida saudável requer uma alimentação que dê prazer e seja social. Os profissionais de saúde e os cuidadores de seniores devem estar atentos às seguintes realidades: o envelhecimento não é uma patologia mas está associado a necessidades e riscos específicos, pelo que devem ser encorajadas as acções de prevenção para que o regime alimentar seja variado, agradável e em porções compatíveis; a atitude proactiva e a sociabilidade do sénior exigem que a alimentação seja encarada como um prazer importante e os alimentos devem ser apreciados com boa qualidade gustativa; deverá sempre ter-se em conta que os regimes alimentares restritivos poderão ter consequências nefastas no estado nutricional do sénior.

Por definição, o sénior fica mais influenciável na maturidade. Daí haver toda a vantagem em apoiá-lo quanto às aldrabices do mercado e às práticas abusivas que podem explorar a fraqueza nas suas decisões de compra. Estas intrujices podem manifestar-se de muitas maneiras: nas compras com ou sem promoções; nas cláusulas dos contratos; nos produtos milagre ligados sobretudo à saúde; nas vendas por telefone, em reunião e nos cartões de férias… os seniores são um alvo privilegiado dos trapaceiros do mercado. Todas as associações que têm seniores devem pensar na sua defesa, explicando-lhes: o que são técnicas de venda e como elas podem manipular a liberdade de escolha; o consumidor deve conhecer os seus direitos nas compras com promoção em saldo, nas vendas com brindes, com redução de preço, etc. (as vendas agressivas sugerem sempre preços mirabolantes, condições únicas e preços imbatíveis); o sénior deve estar alertado de que as intrujices sobre a saúde podem provocar danos irreparáveis, pelo que se deve ter cuidado com os regimes de redução de peso, os alimentos disfarçados de medicamentos e sobretudo os medicamentos comprados na internet.

Há, é verdade, as questões relacionadas com as patologias, por vezes a perda de mobilidade, certas incapacidades. Devemos todos estar conscientes dos porquês do envelhecimento. Um sénior socialmente activo resiste sempre melhor ao isolamento e às obsessões, mesmo quando as limitações são fortes: resiste à perda de visão próxima, à redução de agilidade, ao andar por vezes penoso ou às modificações dos reflexos. O importante é estarmos conscientes do que é o processo do envelhecimento e de como o podemos retardar. Por exemplo, o processo de envelhecimento do sistema nervoso pode começar na meia-idade e manifesta-se por atrofia cerebral.

As associações de doentes e de consumidores, os promotores de saúde, enfim as organizações que estão envolvidas em projectos favoráveis ao envelhecimento activo, têm o dever de apoiar todos aqueles que lhes batem à porta para lhes dar instrumentos para apoio ao envelhecimento positivo: como comunicar com os profissionais de saúde e fazer um uso responsável na toma de medicamentos; saber cuidar do corpo, viver numa casa segura e funcional, dispor de um regime alimentar satisfatório, partilhar as alegrias da vida com os outros.

A solidariedade inter-geracional é uma das garantias para a cidadania de pleno direito, para viver cuidado e a cuidar-se com total dignidade. Com esta solidariedade faremos bem uns aos outros e a sociedade ganhará em termos de desenvolvimento e qualidade de vida: com mais cuidados de saúde e muito menos solidão; com a solicitude e partilha de carinho; com entreajuda e respeito pela memória desses seniores que são bibliotecas vivas.

Enfim, como envelhecer sem uma doença crónica é mais a excepção do que a regra, todo o discurso proactivo em favor dos seniores passa por ajuda-lo a saber gerir a sua própria vida, a preservar as habilidades físicas e mentais necessárias à manutenção de uma vida autónoma. Um sénior que trabalha até tarde, que é educado e que tem a sua curiosidade educada, que é comunicativo e dotado de vida social, está menos sujeito à exclusão e à discriminação social, fica mais aberto a ajudar os outros, permanece receptivo à busca da beleza e ao optimismo.

Beja Santos
Out. 2010

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