quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A guerra mediática não se vê 2)

English: John Pilger NS head shot
Image via Wikipedia




António Campos


(...) Na imagem Jonh Pilger



PN: O filme abre com imagens chocantes do ataque de um helicóptero Apache U. S. contra civis iraquianos em 2007, que foi ao ar pela primeira vez através do site Wikileaks. Wikileaks publicou na semana passada mais de 250.000 telegramas classificados de embaixadas dos E.U.A., os quais desde então dominaram a agenda global de noticias. Quão importante achas o trabalho de Wikileaks e até que ponto é uma ameaça aos governos que desejam manter secretas informações sobre operações militares estrangeiras sigilosas em relação aos seus cidadãos?
JP: Mal me atrevo a usar a palavra “revolução”, mas o aparecimento de Wikileaks é realmente uma revolução. A tecnologia digital permitiu aos governos ler os nossos e-mails, mas isto também significa que nós podemos ler os deles. Será esta uma “ameaça” ao poder estabelecido? Sim, porque, novamente, a informação é poder. Confira-se esse poder a uma elite anti-democrática e o segredo perpetua-a no poder. Quando conhecemos a natureza das maquinações e enganos oficiais, então nós, o público, podemos agir. Como escreveu o historiador Mark Curtis no meu filme, “O público é uma ameaça que deve ser combatida.”
 PN: No filme também contas como Edward Bernays inventou o termo relações públicas e foi um pioneiro do moderno sistema de propaganda. Para alem disso mostras como o governo dos EUA utilizou as técnicas inventadas por Bernays para recrutar cidadãos dos EUA para participar da Primeira Guerra Mundial. Governos como o dos EUA continuam usando essas técnicas ainda hoje, e em caso afirmativo, podes dar alguns exemplos concretos de como isso funciona?
JP: Edward Bernays dizia: “A hábil manipulação das massas é um governo invisível que representa o verdadeiro poder neste país.” As mesmas técnicas ainda são usadas, tais como a criação do que Bernays chamava de “falsa realidade” e os rituais de patriotismo que se dedicam a justificar a guerra. O que é diferente nos dias de hoje é que a propaganda não está funcionando. Olha para o pânico que mostram as respostas dos governos em relação às revelações do Wikileaks. As guerras no Iraque e no Afeganistão tiveram uma forte oposição, não só em todo o mundo, mas também dentro os EUA e Grã-Bretanha. A Internet deu às pessoas uma ferramenta para saber o que está acontecendo, mesmo sem ligar a TV e assistir ao noticiário. Eu escrevo uma coluna para o “New Statesman”, que tem uma tiragem modesta. Mas uma vez na Internet, pode alcançar uma audiência de vários milhões.
PN: Por último, qual seria a melhor maneira de fazer a cobertura da guerra pelos meios de comunicação massivos menos subserviente aos interesses do governo? Tens alguma esperança sobre a capacidade da Internet para fornecer informações alternativas sobre os grandes acontecimentos, como a guerra?
JP: Os meios de comunicação não vão mudar enquanto não mudar a sua estrutura. Um jornal de Murdoch, ou um dos seus canais de TV sempre reflectirão os interesses predatórios de Murdoch. No entanto, jornalistas e organizações de rádio e TV colectivamente têm poder, bem como o público interessado. Eu gostaria de ver estabelecido um “quinto poder”, em que jornalistas, os seus professores em escolas de jornalismo e o público em geral se unam para começar a mudar a prática jornalística a partir de dentro. Durante a invasão do Iraque, houve pequenos motins dentro da BBC, mas não estiveram coordenados. O potencial está aí. Quanto à Internet fornecer informações alternativas sobre a guerra, isso já está acontecendo. A maioria das melhores histórias sobre o Iraque foram publicados na web - por aqueles que, como Nir Rosen e Dahr Jamail, e “jornalistas cidadãos”, como Jo Wilding. E já está acontecendo onde é provavelmente mais importante: mesmo nos centros de poder, onde, aparentemente, quase tudo está a ser vazado e publicado na web, e esperemos que isso continue por muito tempo.

Pablo Navarrete é um editor sobre política, meios de comunicação e cultura na América Latina
Dez. 2010

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