quinta-feira, 15 de março de 2012

Consciência política e cidadania


António Campos





Vivemos uma situação de crise de que não há memória para muitos de nós. Ainda que tenhamos tido várias crises ao longo da nossa história, esta é, porventura mais complexa e de consequências ainda imprevisíveis.

É o mundo globalizado com todas as suas características. Deflagrou a crise financeira americana em 2008 que tem afectado países e continentes. A Europa, de pendor mais social no seu projecto de União Europeia e nas suas práticas políticas, tem sofrido perturbações só comparáveis na sua amplitude, ao período do pós 2ªGuerra Mundial. Os países europeus, uns atrás dos outros vão sucumbindo às exigências das elites financeiras internacionais mas também europeias, sequiosas de lucros, incompreensivelmente obtidos neste período de dificuldades económicas por todos conhecido.

O nosso país não tem sabido viver na democracia. Com o peso da influência salazarista a todos os níveis e em termos culturais, as práticas organizacionais, os partidos políticos, as elites económicas, continuam a jogar com o Povo conforme os seus interesses pessoais, partidários, sempre apoiados judicialmente. O sistema económico do país não foi salvaguardado face aos interesses externos da EU e encontramo-nos muito fragilizados e sem aparelho produtivo com um mínimo de capacidade competitiva.

O Povo, esse conjunto indefinido de pessoas que tem menos recursos económicos e que não alinha nos jogos político-partidários, é posto à margem, é sacrificado. Aconteceu no passado e continua a verificar-se claramente no presente.

Tudo isto poderia mudar se houvesse o culto da cidadania, isto é, o respeito pelos outros e considerar o interesse nacional acima dos interesses individuais, de grupos ou partidos políticos. Pelo contrário, é o inverso que acontece, onde o egoísmo e o individualismo prevalecem, emanados dos que detêm o poder nas suas mais diversas formas. Aquilo que é um direito adquirido noutras sociedades (exemplo dos países nórdicos), no nosso país é sonegado, que é o desenvolvimento social e a repartição equilibrada da riqueza produzida. Daí que as desigualdades sociais se acentuem cada vez mais e se considere isso normal e aceitável. Quem tudo tem, consegue-o na maior parte das vezes de modo pouco lícito, não quer partilhar e impede que muitos outros possam ter uma vida melhor. É o país que temos no seu pior.

Do Povo, os mais informados e esclarecidos, não devem perder essa sua independência, a sua liberdade, a sua capacidade crítica que lhes permite ver para além das aparências e denunciar todas as situações que afectem o verdadeiro desenvolvimento do país. Devem também contribuir de formas diversas para essa construção.

Devemos por isso continuar a acreditar que é possível um país melhor para nós, para os nossos filhos, para os portugueses.

É possível continuar a sonhar com um futuro melhor.


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