António Campos
Vivemos uma situação de crise de que não há memória para
muitos de nós. Ainda que tenhamos tido várias crises ao longo da nossa
história, esta é, porventura mais complexa e de consequências ainda
imprevisíveis.
É o mundo globalizado com todas as suas características.
Deflagrou a crise financeira americana em 2008 que tem afectado países e
continentes. A Europa, de pendor mais social no seu projecto de União Europeia
e nas suas práticas políticas, tem sofrido perturbações só comparáveis na sua amplitude,
ao período do pós 2ªGuerra Mundial. Os países europeus, uns atrás dos outros vão
sucumbindo às exigências das elites financeiras internacionais mas também
europeias, sequiosas de lucros, incompreensivelmente obtidos neste período de
dificuldades económicas por todos conhecido.
O nosso país não tem sabido viver na democracia. Com o peso
da influência salazarista a todos os níveis e em termos culturais, as práticas
organizacionais, os partidos políticos, as elites económicas, continuam a jogar
com o Povo conforme os seus interesses pessoais, partidários, sempre apoiados
judicialmente. O sistema económico do país não foi salvaguardado face aos
interesses externos da EU e encontramo-nos muito fragilizados e sem aparelho
produtivo com um mínimo de capacidade competitiva.
O Povo, esse conjunto indefinido de pessoas que tem menos
recursos económicos e que não alinha nos jogos político-partidários, é posto à
margem, é sacrificado. Aconteceu no passado e continua a verificar-se claramente
no presente.
Tudo isto poderia mudar se houvesse o culto da cidadania,
isto é, o respeito pelos outros e considerar o interesse nacional acima dos
interesses individuais, de grupos ou partidos políticos. Pelo contrário, é o
inverso que acontece, onde o egoísmo e o individualismo prevalecem, emanados
dos que detêm o poder nas suas mais diversas formas. Aquilo que é um direito adquirido
noutras sociedades (exemplo dos países nórdicos), no nosso país é sonegado, que
é o desenvolvimento social e a repartição equilibrada da riqueza produzida. Daí
que as desigualdades sociais se acentuem cada vez mais e se considere isso
normal e aceitável. Quem tudo tem, consegue-o na maior parte das vezes de modo
pouco lícito, não quer partilhar e impede que muitos outros possam ter uma vida
melhor. É o país que temos no seu pior.
Do Povo, os mais informados e esclarecidos, não devem perder
essa sua independência, a sua liberdade, a sua capacidade crítica que lhes
permite ver para além das aparências e denunciar todas as situações que afectem
o verdadeiro desenvolvimento do país. Devem também contribuir de formas
diversas para essa construção.
Devemos por isso continuar a acreditar que é possível um
país melhor para nós, para os nossos filhos, para os portugueses.
É possível continuar a sonhar com um futuro melhor.
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