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António Campos
a sabedoria do professor como docente não
apenas teórico
(…) Normalmente
fala-se do sucesso do estudante, de como dar aulas, a paciência para se
confrontar em diálogo pessoas de idades diferentes, o saber explicar matérias
abruptas, pesadas, com palavras simples.
O sucesso do
estudante é o sucesso do professor, quer primário, secundário ou de estudos
superiores o académicos. A dificuldade não está nas formas de explicar. A
dificuldade, porém o sucesso, é o professor ler matérias que gosta que o
levaram a estudar o material com que trabalha. Leitura que faz com prazer e com
imensa facilidade, especialmente após anos de experiência, é capaz de reparar
que juntar a teoria com a prática é o maior dos sucessos.
Um dos meus
orientados de tese, já Doutor em Biologia, Botânica e Educação Especial,
precisava dele para resolver um problema da sua escrita. Nem a sua mulher nem a
sua doutora filha em genética, sabiam onde andava. Telefonou-me finalmente e
disse-me nesse dia: por acaso o Senhor Professor no me tem ensinado,
especialmente para Educação Especial, que é preciso juntar a teoria com a
matéria? Amanhã vou proferir uma aula de Biologia Molecular, e como sabemos
tem-me dito que as algas e crustáceos são o melhor material para esse ensino.
Calei, congratulei e solicitei num chá das 4 de tarde, para me poder explicar o
processo e o resultado. Acabou por ser uma aula calma e tranquila, na minha casa,
na qual aprendi essa paciência de procurar os meios para ensinar, os riscos de
andar pelas rochas e a felicidade dos estudantes de ter as seguintes na praia
de Sintra. Enquanto os aprendizes procuravam e debatiam entre a teoria ouvida
em aula e a matéria encontrada.
A comparação
começou entre os púberes, foi o grande sucesso do meu mais recente Doutor,
Março 2008, Universidade Clássica de Lisboa. A sua mulher, Magister em
Metrologia, entendia e colaborava nas medições para, juntos, explicar melhor.
Nem sempre. Um casal que mora junto e trabalham junto, aos 20 anos é uma
delícia, mas a uma idade mais larga que a minha, a prudência é um outro
segredo do sucesso do professor, prudência transferida aos estudantes,
que, na puberdade, andam sempre irrequietos. Mais um segredo do sucesso do
professor: transferência ou passagem; permuta; substituição; troca; mudança
entre quem está a aprender que sabe e quem pensa que já sabe.
O meu problema.
Pensava que sabia, até reparar nas minhas aulas de psicologia clínica em
Edimburgo, ao começo dos começos, o nosso professor ensinou a falar com o
paciente com pés descalços e a travar una prova de força com os braços, quando
a análise era difícil para quem estudava. Mais um segredo do sucesso do
professor: saber a fisiologia das idades dos estudantes que ensina, o seu
imaginário, a sua libido, os amores e um certo abandono dos estudos a partir do
dia em que a puberdade acabava e começava a primeira intimidade a dois, hoje em
dia, de qualquer sexo. Entender que amor, paixão e libido vão juntos e
estimulam os objectivos de quem estuda. Em matérias deliberadamente organizadas
como delicadas, das que não se fala, o segredo para o seu sucesso, é o
professor observar os casalinhos, as seduções, as mudanças de pares dentro do
mesmo ano, é para ver, ouvir e calar.
O sucesso do
professor não é apenas os seus estudos e a justiça do julgamento do saber do
discente, transferida em nota e em conversas a dois.
(…) O conteúdo
da matéria tutorial é a teoria, como certas confidências emotivas se o
professor é de confiança do estudante. Nem gritos nem reptos: conversa normal
entre quem já passara pela vida e quem a está a começar. Com o aditivo de que o
estudo passa pela escrita, não apenas a deliciosa leitura, escrita que começa
por um título que é uma hipótese, desenvolver a teoria do texto, provar com,
pelos menos dos autores o que se afirma, ou amostra dos instrumentos usados e o
seu como foi o uso. O mais
importante, é que o sucesso do professor passa pelo ensino de escrever em
frases curtas, e textos sintéticos que sabem dizer muito.
Ser professor é
um prazer e o seu sucesso, a síntese, não entrar pela vida pessoal do aprendiz
de feiticeiro e, menos ainda, nos tempos que correm, ou seduzir ou se deixar
seduzir, com uma libido descontrolada. Temos, como diz Freud em 1922, o Ego o
eu, o Superego que observa à pessoa para se conter, e o Id ou o Isso,
capacidade emotiva que comenda em nós e vigia os nossos actos. Se o professor
os sabe usar, o ser humano que é fica fora e a relação é ensinar para aprender
o que será o futuro da vida, especialmente em época de crises financeira. Que a
ciência for de direita ou da esquerda, não tem o mínimo interesse para o
sucesso de professor. As aulas são proferidas e não uma palestra às escondidas
quer de colegas, quer do inspector.
O sucesso do
professor é saber distinguir entre as notícias, que podem ser debatidas com
ordem e argumento.
Bem sabemos que
não sou um homem de fé, mas que a divindade em que se acredita nem entre nas
aulas nem seja usada para manipular (….).
Raul Iturra (adaptado)
Jan. 2011
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