2 – A História
Os Babilónios, os Egípcios, os Judeus
tinham desenvolvido um conjunto de ideias acerca do que deveria ser evitado
para não ofender a divindade construída com os elementos das interdições e
virtudes sociais, sendo o centro em redor do qual o grupo mede e afere os
comportamentos convenientes. As características da divindade são os elementos
que indicam os comportamentos adequados do homem: sabedoria, justiça, caridade.
Estes três conceitos trespassam os séculos para organizarem o convívio social.
Quer nos escritos antigos, quer no moderno cristianismo, quer, em consequência,
no uso costumeiro das ideias que originaram os textos que as produzem
socialmente e as sancionam, são elementos orientadores do comportamento e
capacidade de entender o funcionamento entre seres humanos e com as coisas, de
entregar a cada um o que compete por hierarquia social, de avaliar as qualidades
individuais no conjunto do social. Redistribuída pelas formas conjunturais do
saber através do tempo, a construção humana da sabedoria divina passa de
Deus ao rei e ao povo, para voltar depois à teoria económica liberal, que a
gere, hoje em dia. O pecado contra a sabedoria subordina todas as acções que
definem um indivíduo como um mau pai de família, que não preveja o sustento do
seu lar e não eduque os seus dependentes para a vida.
A justiça pode ser vista na aceitação de
que cada um tenha acesso aos outros e aos bens segundo a sua origem e condição,
e aí o pecado é a alteração da ordem divina, da paz e do convívio que permite o
trabalho. A caridade é a identidade do homem com a divindade à imagem da
qual foi feito, onde a sua factual efemeridade o converte em sujeito
necessitado de apoio; o pecado reconhece-se no desrespeito por não entregar a
tanta criatura que passa, de forma efémera, pela vida, os meios para
ultrapassar a sua essência intranscendente. Como estas ideias são materializadas,
é uma questão de datas: o cristianismo perseguido suspende o infractor
em relação à participação na comunidade dos fiéis, por mais ou menos tempo; o cristianismo
no poder absoluto reparte a expiação das faltas entre esta vida e a eterna;
o cristianismo que perdeu terreno porque o imperador o ganhou, consegue
trazer todo o castigo para a terra e aliar-se ao poder secular com o fogo da
tortura; o cristianismo dividido da Reforma deixa o trabalho à
consciência, enquanto que a contra-reforma o deixa aos sínodos e à doutrina e,
especialmente, à confissão, que fora leve antes do século XI e que passa depois
a ter a força da sistematização das matérias de pecado.(…)
Raul Iturra
Julho 2011
No Aventar
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