sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O pecado através dos tempos (II)



 

2 – A História

Os Babilónios, os Egípcios, os Judeus tinham desenvolvido um conjunto de ideias acerca do que deveria ser evitado para não ofender a divindade construída com os elementos das interdições e virtudes sociais, sendo o centro em redor do qual o grupo mede e afere os comportamentos convenientes. As características da divindade são os elementos que indicam os comportamentos adequados do homem: sabedoria, justiça, caridade. Estes três conceitos trespassam os séculos para organizarem o convívio social. Quer nos escritos antigos, quer no moderno cristianismo, quer, em consequência, no uso costumeiro das ideias que originaram os textos que as produzem socialmente e as sancionam, são elementos orientadores do comportamento e capacidade de entender o funcionamento entre seres humanos e com as coisas, de entregar a cada um o que compete por hierarquia social, de avaliar as qualidades individuais no conjunto do social. Redistribuída pelas formas conjunturais do saber através do tempo, a construção humana da sabedoria divina passa de Deus ao rei e ao povo, para voltar depois à teoria económica liberal, que a gere, hoje em dia. O pecado contra a sabedoria subordina todas as acções que definem um indivíduo como um mau pai de família, que não preveja o sustento do seu lar e não eduque os seus dependentes para a vida.

A justiça pode ser vista na aceitação de que cada um tenha acesso aos outros e aos bens segundo a sua origem e condição, e aí o pecado é a alteração da ordem divina, da paz e do convívio que permite o trabalho. A caridade é a identidade do homem com a divindade à imagem da qual foi feito, onde a sua factual efemeridade o converte em sujeito necessitado de apoio; o pecado reconhece-se no desrespeito por não entregar a tanta criatura que passa, de forma efémera, pela vida, os meios para ultrapassar a sua essência intranscendente. Como estas ideias são materializadas, é uma questão de datas: o cristianismo perseguido suspende o infractor em relação à participação na comunidade dos fiéis, por mais ou menos tempo; o cristianismo no poder absoluto reparte a expiação das faltas entre esta vida e a eterna; o cristianismo que perdeu terreno porque o imperador o ganhou, consegue trazer todo o castigo para a terra e aliar-se ao poder secular com o fogo da tortura; o cristianismo dividido da Reforma deixa o trabalho à consciência, enquanto que a contra-reforma o deixa aos sínodos e à doutrina e, especialmente, à confissão, que fora leve antes do século XI e que passa depois a ter a força da sistematização das matérias de pecado.(…)

Raul Iturra
Julho 2011
No Aventar

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