segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Amor e casamento

Love and MarriageImage by Pieter Musterd via Flickr


António Campos

«Porque é que as pessoas se apaixonam e casam? A resposta parece óbvia. O amor
expressa uma atracção física e pessoal que dois indivíduos sentem um pelo outro.
Hoje em dia podemos achar que "o amor não é para sempre", mas pensamos que
"apaixonar-se" deriva de sentimentos e emoções humanas universais. Parece completamente natural que um casal que se apaixona queira viver em conjunto e procure na sua relação uma realização pessoal e sexual.

No entanto esta visão, que parece tão evidente, é na verdade pouco usual. Apaixonar-se não é uma experiência que a maioria das pessoas tenha; e está raramente associada ao casamento. A ideia de amor romântico só se generalizou recentemente no mundo ocidental, e nunca existiu na maioria das outras culturas. Só nos tempos modernos o amor, o casamento e a sexualidade se consideram como estando ligados uns aos outros.

Na Idade Média, e durante séculos depois, as pessoas casavam sobretudo para perpetuar a posse de um título de propriedade de uma família, ou para criar filhos para trabalhar na propriedade da família. Uma vez casados, os indivíduos podem ter-se tomado companheiros próximos; isto aconteceu depois do casamento, e não antes. (...)

O amor romântico surgiu nas cortes como uma característica das aventuras sexuais
extramaritais permitidas entre os membros da aristocracia. Até há dois séculos atrás, estava confinado a esses círculos, e claramente separado do casamento. As relações entre marido e mulher entre os grupos aristocráticos eram frias e distantes. (...)

Entre ricos e pobres, a decisão de casar era tomada pela família e parentes, e não
pelos indivíduos em questão, que tinham pouco ou nada a dizer sobre o assunto.
(Isto ainda acontece em muitas culturas não ocidentais.) Portanto, nem o amor romântico nem a sua associação ao casamento podem ser entendidos como características "dadas" da vida humana, mas como moldadas por influências sociais.»

Anthony Giddens. Sociology. Polity Press. 1989 (adaptado)


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