terça-feira, 5 de abril de 2011

Conhece-te a ti mesma(o)

“How shall we learn to know ourselves? By refl...Image by katerha via Flickr



António Campos


É um programa de longo alcance, muitas vezes negligenciado por cada uma de nós em benefício do conhecimento dos outros. No entanto, não podemos ajuizar o que nos rodeia se cada uma de nós não dispuser de bases sólidas para o fazer. Bases que nos permitem viver com os nossos semelhantes, aqueles que estão imbuídos da mesma exigência.

Por preguiça intelectual ou física – ou vice-versa – a grande maioria dos seres humanos resigna-se docilmente a adoptar as ideias e as condições de existência que os pais, os mestres e aqueles que o rodeiam lhes impõem. Esta demissão na adaptação ao meio permite avaliar os nossos próprios actos. Mas, geralmente, não é apercebida pelo indivíduo. Claro que o indivíduo que se conhece bem, não acha que pensa livremente. A sua personalidade podia ser de outra maneira? Afinal, a grande maioria das pessoas estão convencidas que se encontram em perfeita sintonia com a sociedade à qual pertencem.

Na realidade, não nos damos conta que somos prisioneiras(os) não somente dos nossos hábitos, bons ou maus, úteis ou nefastos, como igualmente da moda, das sensações impostas, de conceitos e de abstracções que negam a possibilidade do indivíduo viver por ela(e) própria(o) a sua própria vida.

O ser humano quando nasce é inocente. Tem de aprender tudo. É a mãe que, no berço, se encarrega do seu filho como se ele fosse um objecto. É ainda segundo o seu parecer, ou o dos seus pais, ou das crenças que a abrasam, que a criança será baptizada ou objecto de circuncisão. É debaixo da sua autoridade que ele irá ficar a chorar sob o pretexto que a hora de mamar ainda não chegou ou, então, será forçado a beber demasiado quente ou com açúcar a mais. É então que os hábitos começam. Vão insinuando-se de modo progressivo e só podem desaparecer lentamente se nós os julgarmos desnecessários ou perigosos. Estão inscritos na memória e nos reflexos provocados pelos hábitos e as crenças. Daí a necessidade de visionarmos as nossas mais pequenas acções, a partir do momento em que começamos a compreender as situações novas com as quais nos deparamos. Uma moda acaba de aparecer na televisão, um novo vocabulário surge como mais um progresso técnico. Não fomos nós que inventámos esse novo gesto e esse novo vocabulário. Que cada um de nós fique alerta!

Conhecer-se a si mesma(o) é ter a possibilidade real de controlar os nossos hábitos e, se for caso disso, de sermos nós mesmas(os) a mudá-los. Tem pouco interesse inquietarmos-nos com aquilo que não sabemos – abstracção ou sonho ilusório – mas, já tem todo interesse inquietarmos-nos com aquilo que pensamos saber e com aquilo que temos como adquirido. Esta permanente introspecção é indispensável a todo o ser que reflecte. Entre os nossos comportamentos escolhemos os mais simples, aqueles que dizem respeito às nossas necessidades mais elementares: actividade física e manual, sono, alimentação, higiene corporal, afectividade que vai do amor à solidariedade, mas também a linguagem que empregamos. Questionemos esses assuntos e se verificarmos que as nossas actividades e o nosso comportamento têm normas que conhecemos mas não colocamos em prática, modifique-se de imediato o que achamos que deve ser modificado.

É inútil procurar fora de nós aquilo que podemos encontrar dentro de nós. Quando nos seguimos a nós próprias(os), possuímos o bem mais inestimável que existe, a liberdade de sermos proprietárias(os) de nós mesmas(os).

Recebemos em património uma consciência, sentidos, razão. Utilizemos essas verdadeiras riquezas. Que o nosso hábito seja a disciplina do nosso próprio eu. A via do conhece-te a ti mesma(o). Temos de recusar abandonarmo-nos às mentiras, às bajulações e às honras daqueles que não se enxergam.

Olinda Celeste
(adaptado com a devida vénia)
 Nov.2010

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