sexta-feira, 1 de abril de 2011

A grande ofensiva do capitalismo financeiro global 2

DSC01971Image via Wikipedia



António Campos


Entretanto, tudo isto é acompanhado de uma forte doutrinação ideológica: procura mostrar a globalização económica e financeira como uma inevitabilidade decorrente da globalização tecnológica; equipara as economias nacionais às domésticas, alertando contra os défices orçamentais (que seriam resultado dos elevados custos dos benefícios sociais); procura desacreditar os serviços públicos e a função pública (descrita como parasitária e privilegiada), ao mesmo tempo que exalta a gestão empresarial privada. Por seu turno, na esfera dos valores, glorifica o individualismo e, pior que tudo, desacredita o idealismo, promovendo o pragmatismo sem princípios, o oportunismo sem escrúpulos e o mais despudorado cinismo. Também aqui a inevitabilidade surge como “pedra de toque”, expressa na recuperação da ideia de que existe uma “natureza humana” imutável e perversa. No fundo, o que é importante é ser bem sucedido, seja lá como for. Ao mesmo tempo, o espaço público vai sendo ocupado por economistas da escola neoliberal, que são apresentados como técnicos de uma ciência positiva. Querem criar a ideia da economia como uma ciência exacta, independente das ideologias e escolhas políticas, e dos economistas como simples tecnocratas, que se limitam a interpretar os dados económicos e a fazer previsões a partir daí. Entretanto, ao nível da gestão, a eficiência e a eficácia são apresentadas como valores absolutos em detrimento da democracia e da participação dos trabalhadores e das suas organizações, vistas como inimigas das primeiras.

Por outro lado, para conter o descontentamento dos trabalhadores pela contenção salarial e pela perda de regalias, promove-se o consumismo desenfreado (com recurso a crédito barato).

Simultaneamente, globaliza-se o “circo”, cobrindo exaustivamente grandes acontecimentos globais (sejam Jogos Olímpicos, Mundiais de futebol, concertos de música “pop”) ou, mesmo, explorando globalmente tragédias (como o funeral da princesa Diana ou a saga dos mineiros chilenos). Generalizam-se as telenovelas “de cordel”, pululam as revistas de mexericos e, com elas, as “celebridades” da treta, numa espécie de “star sistem” rasca. Surgem programas de entretenimento que estimulam o “voyeurismo” e promovem a estupidificação das massas. A juventude é particularmente visada: não é por acaso que se incentivam as praxes, as “queimas da fitas”, os festivais de música ou os jogos de vídeo.

Jorge Martins
Nov.2010

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