António Campos
Pensava
escrever sobre a observação das diferenças entre homem e mulher. Pensava.
Continuei a pensar e consultei amigas. No meu ver, as amigas são complemento de
nós homens. Não pela sexualidade, mas pela intimidade que se desenvolve entre
gâmetas diferentes, sendo gâmetas cada uma das duas células (masculina e
feminina) entre as quais se opera a fecundação dos animais e vegetais.
A minha ideia
original era escrever sobre as diferenças entre homem e mulher. No entanto, ao
rever os códigos que nos governam, especialmente o Código Civil, reformulado em
2001, não encontrei nem diferenças nem complementaridade. Hoje em dia, a
diferença sexual tem apenas uma diferença: a mulher grávida carrega a criança
durante nove meses no seu ventre. Ainda assim, esta época moderna leva essa
mulher a trabalhar para sustentar o lar en conjunto com o homem que a
engravidou, seja marido, companheiro, amancebado ou outro tipo de relação a
dois. Seja qual for o tipo de relação, as pessoas complementam-se por causa da
economia, especialmente em épocas de crise financeira, como a que hoje em dia
vivemos.
Crise
financeira que nos complementa, estamos todos submetidos à mesma lei, ao mesmo
governo que nos retira o que não temos, porque antes de pagar, as nossas
autoridades retiram um novo imposto, baixando os salários e subindo os preços
dos produtos alimentares através do aumento do IVA, que o vendedor retira dos
preços cobrados aos clientes. Estes impostos, são um complemento da crise
económica que vivemos, todos por igual, excepto os proprietários de indústrias
ou os financeiros que sabem colocar os seus lucros em empresas que criam
mais-valia. É um pequeno número da população que lucra com a necessidade de
consumo, do pagamento da educação dos mais novos, da compra de livros que mudam
em cada ano escolar, mesmo que a justificação seja a introdução de novos
conhecimentos produzidos pela ciência que devem ser ensinados para desenvolver
ideias que melhorem as formas de vida do nosso país, que muito atrasado está.
Atrasado, porque a classe política está sempre preocupada em semear crises
entre os diversos partidos, para assim saber quem apoia a quem. Estes são os
complementos que eu referia: parte que se junta (ou falta) a outra, para esta
formar um todo completo.
Quanto às
diferenças, não se pense que falo de emotividade ou sexualidade. A reacção da
primeira amiga que consultei, foi directa: eu sou autónoma e
independente, não complemento ninguém. Por outras palavras, tem
liberdade moral, intelectual e independência administrativa. Conheço poucas
pessoas que possuam estas virtudes. Conseguir ser independente ética e
economicamente, parece-me, a mim, ser a procura da solidão das solidões.
Conhecendo a pessoa, parece-me que é apenas um dizer para se defender de uma eventual
solidão real. Se diz ser autónoma, como pode, porém, amar? Ou procurar amor?
Estas são as diferenças que levam à complementaridade entre pessoas que
protestam por obrigações e, no entanto, sonham com a companhia e estão sempre
acompanhadas. Mas, também, a solidão não as afecta nem ficam abandonadas:
acabam por ter ânimo para a autonomia, essa autonomia que todos queríamos ter,
mas não conseguimos por sermos seres sociais, precisamos dos outros que nos
inspiram confiança, fazendo das diferenças, uma complementaridade. A outra senhora
entrevistada falou-me de complementaridade como primeira frase. Pessoa que
adora a solidão e se refugia no trabalho permanente.
Quais, pois, as
diferenças que levam à complementaridade? Ou, colocando a pergunta de uma outra
maneira, será que há diferenças entre seres humanos de uma mesma cultura, uma
mesma língua, uma história comum, de leis que governam todos por igual,
especialmente se elas são respeitadas e mandadas respeitar? A diferença que
complemento é, no meu ver, apenas um sentimento que nos defende de uma solidão
não esperada. Solidão que existe quando há outros assuntos a fazer. Ou, apenas,
essa dedicação à solidão porque não há outras alternativas para a companhia.
Um assunto
parece-me certo: apenas os seres fortes, que cumprem as suas obrigações e não
choramingam pela vida que lhes coube viver, são capazes de criar uma abençoada
autonomia, criando alternativas perante a vida. Estas ideias são filosofia de
alto voo.
No começo,
pensava escrever sobre a diferença entre homem e mulher, contudo ao rever os
códigos e ao não encontrar nada que não mande a todos serem cidadãos ou
indivíduos no gozo dos direitos civis e políticos de um estado livre, mas nós,
que vivemos debaixo de ditaduras opressivas ou de pessoas que não acompanham
nem com carinho nem com trabalho, somos amantes da autonomia, procuramo-la,
aceitamo-la e se acontecer que dois autónomos se encontram… Seria a felicidade
das felicidades, com respeito e companhia, especialmente respeito a essa
companhia. É assim que, sem dar por isso, enamorei-me e estou sempre
acompanhado pela pessoa, ou pela sua relíquia…Esta é a diferença que leva à
complementaridade. Amo-te, rapariga autónoma, porque nos complementamos, rimos,
divertimo-nos e confrontamos as diferenças com paz, tranquilidade e companhia…
Fev.2011
Raul Iturra
Sem comentários:
Enviar um comentário