sexta-feira, 23 de abril de 2010

Será que existem milagres?

The Raising of Lazarus, (c. 1410) folio 171r f...Image via Wikipedia


António Campos

Um dos pilares que mantém a estrutura da religião funcionando são os milagres. Para os crentes, os milagres são a prova de que a sua crença seria verdadeira, uma vez que eles seriam a acção de Deus no mundo, provando não só a veracidade da doutrina assim como a existência de Deus. Entretanto o fenómeno do milagre está presente nas várias religiões do mundo. Há várias contradições na natureza do milagre que para que eles fossem cientificamente aceitáveis. Primeiramente, deve considerar-se o facto de que ao realizar um milagre, Deus teria que obrigatoriamente interferir nas leis da natureza. Considerando a possibilidade da existência de Deus, ele simplesmente interferiria nas leis que ele próprio criou para mudar o curso de um sistema que ele mesmo criou.Por outras palavras, no milagre, Deus não só interferiria nas leis naturais assim como no próprio livre-arbítrio. Logo a natureza do milagre não tem lógica.

Do ponto de vista científico, não considerando o factor Deus, o milagre é metodologicamente impossível pelo facto já mencionado de alterar as leis naturais, algo cientificamente impossível. A alegação para a existência de um milagre é que a ciência não conseguiu explicar um fenómeno pelo método científico. De facto, nem todos os casos de supostos milagres a ciência conseguiu explicar. Entretanto devemos ter em consideração que a ciência é refém de um processo evolutivo de descobertas, logo o facto da ciência não encontrar uma solução para um suposto milagre, não quer dizer que isso é a prova da comprovação do milagre. Um exemplo disso é o “Santo Sudário”, que segundo a tradição, é o pano que envolveu Jesus após sua morte e que nele, milagrosamente produziu-se a imagem de Jesus momentos antes da ressurreição. Após várias polémicas, no fim da década de 80 foi confirmado que o pano teria sido feito na Idade Média. Entretanto foi alegado que o resultado foi manipulado. E que com isso seria feito um novo teste. Só que no final de 2009, cientistas italianos reproduziram perfeitamente a imagem utilizando métodos medievais. E agora? Outro facto inusitado e polémico é que na Itália, um país altamente católico, no começo do séc. XX, surgiu um frade capuchinho chamado Padre Pio que apresentava estigmas semelhantes a São Francisco. Após a sua morte, esse frade foi canonizado como sendo o “irmão espiritual de São Francisco”. Entretanto recentemente descobriu-se que ele comprava ácidos secretamente o que produzia as feridas. E de facto, se notarmos as fotos dos estigmas, as feridas têm uma conotação de queimadura e não de perfurações como vários outros estigmatizados se mostram.

Da mesma forma, voltando no tempo, até hoje Francisco de Assis é considerado um dos santos mais importantes do catolicismo, cujos relatos de milagres são inúmeros. O mais impressionante milagre são os estigmas, os mesmos que Padre Pio alegava ter. Ora, primeiramente deve-se considerar que Francisco vivia cuidando de leprosos, o que para as condições sanitárias da Idade Média era um alto risco de contaminação. Outro facto é que, assim como vários outros santos e místicos, Francisco passava vários dias e até semanas sem se alimentar em condições. Para uma pessoa que passa dias sem comer meditando sobre o Arcanjo Miguel e a crucificação de Jesus, não é impressionante que ela tenha uma visão de um serafim que lhe passe as chagas de Cristo. E ainda mais, considerando que dependendo da imunidade da pessoa, casos de lepra podem irromper da noite para o dia, não é estranho que do nada surjam feridas justamente nas mãos e nos pés, locais que estariam mais propícios a infecções. Desse modo, todas essas visões, milagres, estigmas, se colocados à luz da razão e da análise científica, passam a um simples fenómeno resultante da debilidade do organismo e/ou de uma projecção da mente do indivíduo para aquilo que ele deseja.

Desse modo, também temos outros factos a considerar como as visões do auto-intitulado apóstolo Paulo e do profeta Mohammed sobre Jesus e o anjo Gabriel respectivamente, que ao lembrarmos que tanto Paulo quanto Mohammed eram epilépticos essas visões tornam-se uma projecção da mente, consequentes do ataque, uma vez que um ouviu momentos antes por um sermão sobre a conversão a Jesus e o outro estava há dias sem comer meditando sobre revelações divinas. Outros ditos milagres como curas inexplicadas, imagens que vertem sangue, mel, leite, assim como supostas aparições no céu, nada mais são do que reflexos da actuação da mente humana segundo o seu subconsciente que cria conclusões de fenómenos que simplesmente não existem, quando não muitas vezes são comprovados como fraudes arquitectadas. Vários casos como as aparições na cidade Bósnia de Medjugórie, onde Maria supostamente teria aparecido, foram comprovados e aceites pelos próprios bispos locais como eventos naturais, entretanto as romarias ainda continuam a frequentar o local como se fosse um sítio de um autêntico milagre. Assim como outros fenómenos que ainda são considerados milagres como a famosa “dança do sol”, que nada mais é do que a refracção da luz o que faz com que o sol “ande” pelo céu.

Considerando que em quase todo lugar existe um local que é tido como sagrado, qualquer fenómeno que o ser humano não compreenda, acentuando-se a isso que a religião existe nas várias sociedades, a primeira ideia a considerar-se vai ser a de um fenómeno sobrenatural. Todos viram o que uma simples mancha na janela pode fazer no ser humano. A sua capacidade de abstracção o faz ver aquilo que ele quer, a prova disso é que o homem“vê” várias imagens nas nuvens. Logo se a forma de uma cabeça aparecer numa nuvem um cristão dirá que é Jesus, um budista dirá que é Buda, um hindu dirá que é Shiva, e por aí vai, pois o ser humano, ficou dependendo de sinais para confirmar sua fé, logo qualquer sinal que ele considerar anormal ele fará a analogia segundo a sua crença como um mecanismo de defesa da própria crença, sempre na esperança que aquele sinal confirme sua fé. E muitas vezes, mesmo que seja provado o contrário, a fé estará tão enraizada no seu subconsciente que o processo para reverter essa convicção não surtirá mais efeitos.

E considerando que geralmente essas pessoas são leigas das ciências naturais, sem falar quando nem sequer imaginam que alguém está estudando esse fenómeno, não é estranho que a pessoa aceite o fenómeno à primeira vista como verdadeiro. Até porque o impacto do primeiro encontro com o fenómeno causa uma acepção quase que automática. No caso velho “telefone sem fio”, a situação é até mais simples de se compreender. Um caso bem simples aconteceu nos EUA no início do séc. XX, quando por uma brincadeira de mau gosto foi anunciado no rádio que estava acontecendo uma invasão alienígena. Mesmo não havendo indícios físicos para tal invasão, as pessoas se desesperaram de um modo que esse episódio ficou conhecido como a “Guerra dos Mundos”. Agora invente um facto, ou atribua um facto que você não compreende a uma pessoa que você considera um santo. A história espalhar-se-á pela comunidade, e mesmo que seja provado o contrário, a história já terá sido espalhada, sendo contada pelas gerações até chegar aos dias de hoje. Quem irá duvidar dessa história? Afinal, é tradição. Assim, esse “milagre” sobrevive até aos dias de hoje. Ora isto pode aplicar-se a outros conhecidos “milagres” como Fátima ou Lurdes.

Adaptado de Shaka Kama-Hari



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