segunda-feira, 14 de junho de 2010

A Força e a Mente-Colmeia

All in the MindImage via Wikipedia


António Campos




Gostaria de fazer uma pequena introdução sobre uma questão muito debatida não só no mundo Star Wars, mas actualmente no campo científico: O poder da mente. Quando falo nisso me refiro tanto à questão da capacidade supra-natural (isto é, a superação da actual utilização da mente pelos seres humanos) da mente actuar no corpo, e também fora dele, e também o facto de toda a sabedoria dos antigos voltar-se para uma abordagem filosófico-psicológica sobre o “poder de criação” da mente.

O último livro de Dan Brown, “O Símbolo Perdido”, aborda a questão do poder da mente e uma “nova ciência” que explora a capacidade de actuação da mente humana, comprovando ou não questões metafísicas como a vida após a morte, a conexão entre os seres vivos e a existência ou não de uma força maior que muitos chamam de Deus. Este ramo da ciência chamado Ciência Noética é muito explorada no livro, onde uma das teorias que aparecem é a da “Mente-Colmeia”. Para essa teoria, as mentes dos homens estão conectadas as demais, assim como há uma ligação entre a vida dos humanos e dos demais seres vivos formando uma espécie de Simbiose.

Em Star Wars – Episódio I, temos o Mestre Qui-Gon Jinn explicando ao jovem Anakin sobre a natureza dos seres vivos, pois todos possuem uma ligação que mantém todos unidos. No mesmo filme, Obi-Wan fala ao líder Nass, dos Gungas, sobre o ciclo simbiótico que liga eles aos Naboo. No mundo Star Wars, todos os seres vivos estão unidos a partir dos seus Midichlorians, microelementos que vivem dentro dos seres vivos formando uma sinapse entre eles, de modo que não só conectam uns aos outros, mas também à Força. Mas o que é a Força?

Tradicionalmente a Força é descrita por Obi-Wan em Star Wars – Episódio VI, como sendo “É um campo de energia criado por todas as coisas vivas, ela nos cerca e penetra. Ela mantém a Galáxia unida". É interessante notarmos que a Força emana de todos os seres vivos. Sem eles, Ela não existia. É uma energia vital, que dá vida ao Universo. Vida, no sentido de harmonia, pois sem ela, não haveria ordem no Universo, e o mesmo se destruiria a partir desse caos. Logo chegamos a duas conclusões: A Força não é um ser como muitos pensam, ela simplesmente emana dos seres vivos. Ela também não é criada, é como se ela sempre existisse, embora estivesse esperando o momento para manifestar-se. No caso de Star Wars, Obi-Wan nos revela que Ela “é o que dá poder a um Jedi”.

Considerando a manifestação da Força como literal, voltemos ao livro de Dan Brown. A Ciência Noética a partir da ideia da simbiose das mentes estuda se é possível a atuação da mente fora do corpo, como se ela detivesse um poder secreto. Nas tradições espirituais do mundo, nós temos relatos de diversos feitos de vários humanos utilizando-se de um “poder”, algo que emanava deles, não por méritos ou busca desse poder, mas porque ele já existia neles. Vários místicos religiosos eram descritos como homens de milagres que atuavam no mundo utilizando-se de seus “poderes” para fazer o bem. Ora, em Star Wars, a Força não é algo que se desenvolve, mas que já está dentro de todos os seres vivos, eles já nascem com Ela. A partir do treino, isto é, da busca pelo “seu interior” é que descobrem o quanto eles são capazes de fazer. A Força ou o poder dos místicos não é um dom, eles apenas “descobrem”, “revelam” a si mesmos e ao mundo sua capacidade de agir neste mundo e no outro.

Chegamos a duas conclusões onde tanto a Força quanto o poder desses místicos são advindos deles próprios quando “ativam” sua mente. De Sócrates à Buda, temos os ensinamentos para que possamos nos “conhecer a nós mesmos” e com isso “conhecermos os Deuses”.

Jesus fala de “quem conhece a mim conhece ao Pai” e com isso “poderá fazer obras maiores que eu”. O “Pai” é “Deus”, mas o que seria “Deus”? Muitos dizem que a Força é Deus. Isso não é certo, mas também não é errado. Não é certo a partir do momento que você considera Deus como uma entidade criadora, um ser, algo que está além do homem no sentido de separado do mesmo. Mas e se considerássemos Deus algo vindo do próprio homem? Em “O Símbolo Perdido”, as pesquisas da Ciência Noética, revelam que “Deus é um em muitos” como dizia Pitágoras. A ideia de um “Deus plural” se revela na palavra hebraica “Elohim”, definidora de “Deus” na Bíblia, onde seu sentido etimológico remete a ideia de Deus como sendo algo plural.

Essa ideia de pluralidade nos confirmaria o fato de que Deus não seria um ente, mas a emanação das mentes dos seres vivos, assim como a Força é formada pela emanação da “energia” dos seres vivos da Galáxia. A ideia da “mente do mundo” de Platão mostra-nos como literalmente os seres humanos estariam unidos numa simbiose claramente descrita por Qui-Gon em Star Wars. Desse modo, a ideia da Força como sendo Deus não é descartada, revelando que Deus poderia ser sim uma emanação dos seres vivos, desse modo sendo “eterno”, ou “atemporal”, pois ele não seria criado, e sim “emanado”. Essa “Força” a quem chamamos de Deus estaria o tempo todo dentro de nós “penetrando-nos e tornando o Universo unido”. O modo como “Deus” se revelaria no mundo material, seria através de nós mesmos, sejam em “actos ou palavras, pensamentos ou omissões”. Por isso a Bíblia fala “não sabeis que sois deuses?”.

A grosso modo, a ideia da Força enquanto Deus, e este sendo uma emanação dos seres vivos torna-se tão lógico quanto os ensinamentos dos antigos ou a explicação da metafísica em Star Wars pelos Mestres Jedi. De facto, o Universo possui muitos mistérios que a mente humana (esta, de facto, limitada) não consegue compreender.

É como se nossa capacidade estivesse adormecida dentro de nós esperando ser manifestada, por nós mesmos, nos tornando “unos” com nós mesmos e com os outros. Sentir a Força, é realizar esta união, que só poderá ser feita se cumprirmos a máxima da auto-realização da mente humana tão pregada pelos Mestres desse mundo: “Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o Universo e os deuses”. Deuses, ou Jedi, nós ainda estamos longe de nos descobrirmos, mas até lá, ainda teremos muito caminho pela frente para compreendermos a real natureza de Deus, ou de nós mesmos, ou da Força.

Que a Força esteja conosco.

de Shaka Kama-Hari



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