quarta-feira, 2 de junho de 2010

O declínio da União Europeia e de Portugal no mundo actual 2)

Location map: Portugal (dark green) / European...Image via Wikipedia


António Campos


OS DESEQUILÍBRIOS MUNDIAIS E NO INTERIOR DA UNIÃO EUROPEIA VÃO-SE AGRAVAR

Uma das causas da crise actual foi a acumulação dos desequilíbrios mundiais, provocada por uma globalização capitalista selvagem que liberalizou sem quaisquer regras o comércio mundial, o que está a determinar o declínio de economias como a da União Europeia e de Portugal, e o agravamento das desigualdades quer a nível mundial quer no interior de cada país.

A política seguida pelos países produtores de petróleo, pela Alemanha, e pela própria China, que têm acumulado elevados saldos positivos nas suas Balanças de Pagamentos Correntes e que, no lugar de os utilizarem para reduzir as desigualdades sociais internas e aumentar o nível de vida das suas populações, têm ou investido na compra de títulos da dívida pública americana (só a China investiu cerca de 800.000 milhões de dólares, a maior parte deles depois certamente canalizados para a indústria de guerra americana, ao mesmo tempo que tem adquirido grandes empresas nos países capitalistas), ou aplicado directamente em investimentos especulativos (muitos bancos alemães foram fortemente afectados pela crise do subprime), permitindo assim a canalização de meios financeiros gigantescos para a especulação financeira, criou as condições que levaram à crise actual, com consequências catastróficas, quer económicas, quer sociais.
E, segundo as previsões do FMI, aqueles desequilíbrios continuarão a agravar-se. Assim, no período 2010-2015, o saldo anual da Balança de Pagamentos Correntes da Alemanha será positivo e corresponderá a 4,9% do PIB; o da China será também positivo, atingindo 6,9% do PIB, enquanto o dos EUA será negativo e corresponderá a –3,4% do PIB; o da Zona Euro será nulo (0%), e o de Portugal será negativo e atingirá em média, anualmente, o elevado valor de –9,4% do PIB. Se isso efectivamente acontecer, o declínio e as dificuldades de Portugal num quadro de crescimento anémico vão certamente aumentar ainda mais.

A DÍVIDA EXTERNA DE PORTUGAL VAI CONTINUAR A AUMENTAR A UM RITMO ELEVADO

No período 2006-2009, o PIB português a preços correntes aumentou apenas 5,2%, mas a Dívida Líquida Externa cresceu 44,9% (atingindo 111,7% do PIB) e a Dívida Bruta subiu 21,1% (atingindo 298,1% do PIB). E esta dívida enorme vai continuar a crescer a um ritmo elevado.
Utilizando as previsões do FMI do saldo da Balança de Pagamentos Correntes e do crescimento do PIB no período 2010-2015, estimamos que o saldo negativo acumulado na Balança de Pagamentos Correntes de Portugal some 98.416,5 milhões €, o que corresponde a 56% da média dos valores do PIB no mesmo período, o que fará disparar a dívida de Portugal ao estrangeiro.

É URGENTE SUBSTITUIR A OBSESSÃO DE REDUZIR O DÉFICE ORÇAMENTAL PARA MENOS DE 3%, POR UMA POLÍTICA QUE TENHA COMO OBJECTIVO O CRESCIMENTO ECONÓMICO SUPERIOR A 3%

É urgente substituir a actual política de estrangulamento e definhamento do crescimento económico por uma política que tenha como objectivo principal o crescimento económico. No lugar de um PEC que pretende reduzir o défice orçamental para menos de 3%, a UE e Portugal precisam é de um Programa que tenha como objectivo principal alcançar uma taxa de crescimento económico superior a 3%. O grande obstáculo a tal mudança é o bloqueio em que estão os dirigentes políticos e os economistas defensores do pensamento oficial com acesso privilegiado aos media, que são incapazes de definir uma estratégia de desenvolvimento para a UE e para Portugal, e limitam-se a papaguear a defesa de uma política de consolidação orçamental em plena crise económica, o que está a conduzir a Europa e Portugal ao declínio. É uma fuga cega para a frente que só pode levar ao declínio e ao desastre. É chocante constatar que a UE não tem qualquer estratégia a não ser a consolidação orçamental. Não deixa de ser curioso que um país como os EUA, que conduziu o mundo à crise actual, fortemente endividado, com uma Balança Comercial altamente deficitária, e com um défice orçamental gigantesco, esteja neste momento mais interessado em recuperar o crescimento económico do que preocupado com a consolidação orçamental que tanto preocupa os governos da Europa e o pensamento económico dominante.

Em Portugal, a política dominada pela obsessão do défice tem sido ruinosa para a nossa economia, já que tem determinado taxas de crescimento anémicas, em muitos anos até inferiores a 1%. Para além disso, esta política está a ter graves consequências sociais. Segundo o FMI, o desemprego oficial atingirá em Portugal 11% em 2010 e 10,3% em 2011, o que corresponde a 614,5 mil desempregados este ano. Mas a este número oficial de desempregados há ainda a acrescentar os 140 mil desempregados que não constam das estatísticas oficiais, ou por não terem procurado emprego no período em que foi feito o inquérito (aqueles a que o INE designa como “inactivos disponíveis”), ou por fazerem pequenos biscates para sobreviverem (o chamado “subemprego visível”). Se somarmos também estes desempregados ao desemprego oficial, o número total de desempregados em 2010 atingirá certamente os 750 mil, ou seja, uma taxa de desemprego superior a 13%, portanto valores que nunca foram atingidos em Portugal depois do 25 de Abril. Substituir a política de redução do défice em plena crise económica por uma política que tenha como objectivo o crescimento económico é um imperativo nacional. Adiar por mais tempo esse desiderato é condenar Portugal ao declínio e ao retrocesso económico e social. É difícil inverter esta política, mas é necessário e “ nós podemos” (we can).

De Eugénio Rosa, 26 de Abril de 2010 (adaptado)- conclusão


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