sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A selecção social no trajecto escolar

Slow march to a social revolutionImage by Pandiyan via Flickr


António Campos

Mais de um terço dos estudantes (36,2%) que, em 2008, entraram para o 10º ano possuíam já um nível de qualificação mais elevado que o dos seus pais. E outros 23,9% estavam a caminho de alcançar esta meta, ou seja, cerca de dois terços dos jovens que se encontravam à entrada do ensino secundário já tinham ultrapassado ou estavam prestes a ultrapassar os seus familiares, revela um estudo (...) divulgado pelo Ministério da Educação.

Estes dados dão conta de "um processo intergeracional de aumento das qualificações", frisa-se no estudo desenvolvido pelo Observatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário, com base em inquéritos a 46 175 alunos do 10º ano ou equivalente (correspondente a 44% do universo de alunos). Não são dados que surpreendam face ao cenário de base de Portugal. Ainda no Censos de 2001 eram identificados 10% de analfabetos e dava-se conta de que apenas 15% da população tinha então concluído o ensino secundário. Entre os jovens agora inquiridos, 21,6% têm pais com o secundário completo. Com o superior, a percentagem desce para 18,3 %.

Mas o progresso entretanto registado entre os jovens continua a ser marcado por "processos de selecção social", adverte-se. Por um lado, à entrada do ensino secundário - e, portanto, quando já está ultrapassada a escolaridade obrigatória -, verifica-se "um peso expressivo de alunos oriundos de famílias com recursos escolares e profissões com estatuto socioeconómico elevado". Por outro, o maior ou menor sucesso aparece muito associado à "linhagem".

As diferenças são ainda esmagadoras: os jovens inquiridos "que têm mais frequentemente trajectos escolares marcados por um elevado desempenho escolar [65,8%] são oriundos de famílias vinculadas a profissões altamente qualificadas". Aquela percentagem desce para 37,9% entre os estudantes oriundos de famílias operárias.

Público, 2009-01-14 (adaptado)


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