quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Simplesmente ‘aprender a pensar’ um pouco com Noam Chomsky…



«Sou docente do grupo de Educação Física e leciono há cerca de 28 anos, estando atualmente posicionado no 8º Escalão do ECD (já poderia estar no 9º, não fosse o ‘congelamento’ de carreiras, que pelos vistos, se mantém, pelo menos, mais um ano, segundo o OE 2015 previsto, o que seria, naturalmente, de prever, face à ‘nova moda de conjugação verbal’ – ‘manterá’). Começo por referir isto, apenas para lhe ‘reforçar’, que sou um docente com larga experiência no ensino e, no meu caso particular, com larga experiência paralela no ‘mundo do Desporto’, mais que suficiente para credibilizar a minha função, enquanto docente da disciplina de Educação Física no contexto escolar. Poderia acrescentar, que para além de uma licenciatura em Educação Física (cinco anos de licenciatura, mais dois anos de Profissionalização em Serviço, para quem saiba, ainda, o que isso é…) numa das mais prestigiadas universidades em Portugal (nos idos anos 80), fiz, entretanto, um ‘verdadeiro’ (desculpe o adjetivo, mas é apenas, uma vez mais para ‘reforçar algo’…) Curso de Mestrado em Ciências do Desporto (com 2 anos de duração) e um Curso de Doutoramento na mesma área (com 4 anos de duração). Ou seja, para além de toda uma extensa experiência profissional, quer ao nível do ensino (onde ocupei, durante estes 28 anos de serviço docente, ‘quase’ todos os cargos possíveis no universo escolar: Docente, Representante/Delegado de Grupo Disciplinar, Diretor de Instalações, Diretor de Turma, Coordenador de Departamento, Coordenador de Diretores de Turma, Coordenação dos Cursos de Ofertas Qualificantes, Assessor de uma Direção Executiva e Subdiretor de um Agrupamento de Escolas… Só não cheguei a exercer, portanto, a função de Diretor…), quer ao nível do Desporto (preferia não mencionar o meu ‘percurso’ neste âmbito, pois para além de extenso, implicaria mencionar algumas entidades que representei, as quais preferia manter no anonimato, apenas por uma questão de ética), penso ter realizado, paralelamente, ao meu desempenho profissional todo um conjunto de formações académicas e outras que vieram, de facto, enriquecer-me, quer enquanto pessoa/indivíduo, quer enquanto profissional.

Creio que possa imaginar, com que custos pessoais realizei todo este percurso. Poderia, ainda, acrescentar que, pelo meio, fui realizando umas quantas (duas para ser mais preciso) ‘pós-graduações’ na área da Educação, apenas, para me manter ‘atualizado’ quanto a alguns aspetos mais pertinentes, como por exemplo, uma das que realizei sobre ‘Avaliação Educacional’, aquando da ‘avalanche’ de todo o processo de avaliação (docente e institucional), ou seja, tal como referiu o filósofo José Gil, quando demos início ao período de ‘avaliocracia’.
Bem, mas poderá parecer que lhe venho falar do meu ‘ego’, ou do meu currículo pessoal. Não, de modo algum. Como lhe comecei por referir, pretendia apenas introduzir ‘aquilo’ que verdadeiramente pretendo partilhar consigo e, se porventura entender, talvez pudesse ‘trabalhar’ melhor o meu texto (pois reconheço-lhe toda a autoridade/legitimidade e, sobretudo, competência para o fazer) e partilhar o ‘essencial’ com os demais colegas no seu blogue, pois, e ainda que não seja essa a minha principal pretensão, não tenho ‘meios de passar uma mensagem’, a qual gostaria, pelo menos, servisse de apoio à vossa/nossa manifestação: “Nem mais um dia sem aulas”.
De facto, o que pretendo evidenciar, é que este ‘Estado’ em que vivemos (o português mesmo) tornou-se, na minha humilde opinião, num verdadeiro ‘triturador’ (no sentido de destruidor) de profissões, de carreiras, de ambições; diria mesmo de sonhos e de vidas. Apresentei, portanto, o meu caso pessoal, para que se perceba como um ‘técnico altamente qualificado’ e cidadão cumpridor dos seus deveres é, ou tem vindo a ser ‘tratado’ pelo seu ‘patrão’, tal como acredito, o mesmo se passará com milhares de outros colegas e cidadãos por esse país fora.

A verdade é que aos 53 anos de idade (um ‘jovem’, portanto…), para além de estar cansado física e intelectualmente de trabalhar/estudar, estou, sobretudo, esgotado e sinto-me completamente impotente para dar mais uma oportunidade que seja aos neoliberalistas que ‘desgovernam’ este nosso país. Reforço, não estou ‘desiludido’ com o meu país, pois esse não tem ‘culpa’ de nada. Foquemo-nos no essencial, na ‘raiz’ do(s) problema(s)…
Foi nesse contexto que decidi aderir em dezembro de 2013 a um ‘suposto’ Programa de Rescisões por Mútuo Acordo (PRMA) lançado pelo atual executivo e sobre o qual não pretendo aqui debruçar-me, pois foi mais um processo tão ‘mau’, tão ridiculamente ‘manipulativo’ de pessoas (que também são profissionais) tão já de si fragilizadas, cansadas, que seria, uma vez mais ‘pregar aos peixes’ – Sim, fui um dos contemplados com um ‘leviano mail’ transmitido pelo meu atual Diretor de Agrupamento a agradecer ter aderido ao referido processo e pouco mais…
E aqui, começo por questionar: Será que só ‘alguns’ de nós conseguem perceber o ‘maquiavelismo’ com que os nossos governantes conseguem ‘levar a água ao seu moinho’ (neste caso, talvez fosse melhor dizer: “o dinheiro ao bolso certo”)?
Estaremos todos, de facto, ‘adormecidos’? ‘Entorpecidos’ acredito que sim, mas gostaria de acreditar que existe por aí, ainda alguma réstia de ‘inteligência’, de caráter, de dignidade, de coragem (perdoem-me a afirmação, pois não pretendo imiscuir-me da mesma, de modo algum…).

Em 28 anos ao serviço do MEC, como hão de imaginar, vi-me envolvido em múltiplas ‘trapalhadas’ e a uma cada vez mais estrategicamente ‘elaborada’ burocratização do sistema. Ver-me, uma vez mais, enganado, neste ‘desejado’ final de carreira antecipada (processo de adesão ao PRMA) e, como se não bastasse, assistir a um total ‘desrespeito’ por milhares de colegas, cidadãos e profissionais num ‘elaboradíssimo’ (com requintes de uma total ‘frieza’ digna de um qualquer psicopata) processo de ‘recrutamento’ de docentes, pondo em causa o normal funcionamento de uma instituição tão ‘grande’ como é a do Ensino/Educação e a de milhares de alunos e famílias, deixou-me, de vez, com vontade de também eu começar a fazer ‘algo diferente’ por este meu país e deixar, qual ‘Calimero’, de me lamuriar de forma mais recatada (em privado) e respeitosa (pois é disso que também se trata, não fosse eu um docente).
Caro Paulo Guinote, o que lhe posso ‘dizer’, então…
Estava de saída (parafraseando alguém, ‘estarei de saída’…) deste ‘sistema ignóbil’ e vi-me, de repente, de novo ‘engolido’ por ele. Mas antes de sair (e acredite que ‘sairei’, de uma forma ou de outra, pois basta de ser menosprezado, desrespeitado e ‘empurrado’ para fora…), se me permite, é hora de ‘vomitar’ alguma coisa, pois de tão ‘indigesto’, não há quem aguente…
Passarei, então, ao verdadeiro assunto que me trás até si, que tal como referi em subtítulo, resultou de uma reflexão após uma entrevista que li de Noam Chomsky há algum tempo a esta parte e que me parece ser esclarecedora (no mínimo) para quem pretenda ‘perceber’ um pouco as razões para este ‘Estado’ – da Educação e de um país…
Então,

Gostaria de começar por ir, desde já, ao cerne da questão:
Tudo não passa, afinal, de um grande negócio!
Tal como temos vindo a observar nas grandes empresas, o nosso ministério, aquilo que pretende é passar a fazer uma espécie de ‘contratação de empregados temporais’, empregados sem qualquer tipo de direitos sociais, com o único objetivo de reduzir os custos laborais, incrementando, desse modo, um total ‘servilismo laboral’.
Ou seja, estamos perante a transformação da Educação num ‘modus’ empresarial, através de um ‘assalto’ neoliberal (que já nem precisa de estar/ser camuflado), tendo como principal intenção manter, a custos cada vez mais baixos, o ‘sistema’, e assegurando-se, em simultâneo, de que os ‘funcionários’ permaneçam dóceis e obedientes; e que melhor forma de o conseguir fazer, através de trabalho precário temporal…
Segundo Noam Chomsky, a ideia fundamental deste ‘movimento neoliberal’ é dividir a sociedade em dois grupos. A um deles, Chomsky chama-lhe de ‘plutocratas’, os quais não são mais do que uma pequena elite dominante da riqueza global, a qual se encontra, sobretudo concentrada nos EUA. O outro grupo, não é mais que todo o resto da população mundial, ‘gentes’ (como nós…) que vivem uma ‘existência’ precária (ou ainda acham que não?).
E Chomsky dá-nos o exemplo real de tudo isto, lembrando-nos o discurso de Alan Greenspan, perante o Congresso americano em 1997, sobre as maravilhas da economia que dirigia. Greenspan disse muito claramente que uma das bases do seu êxito económico era que estava a impor o que ele mesmo chamou “uma maior insegurança nos trabalhadores”. Se os trabalhadores estão mais inseguros, isso é muito ‘bom’ para a sociedade, porque se os trabalhadores estão inseguros, não exigirão aumentos salariais, não realizarão greves, não reclamarão direitos sociais – servirão apenas os seus ‘amos’ passivamente. E imaginam como isto possa ser ótimo para a ‘saúde económica’ das grandes empresas. Se não acreditam nas minhas ‘palavras’, pelo menos, seria bom que acreditassem nas de Greenspan, pois ele (ou o que ele ‘representa’), de facto, tem muito mais ‘poder’ do que qualquer um de nós…

Pois, então, a agenda destes ‘senhores’ não é mais do que arranjar formas de criarem uma maior insegurança no mundo laboral; em nós, não é assim?
E como o têm vindo a fazer?
Simples, essencialmente, deixaram de nos garantir a empregabilidade, mantêm-nos pendentes, ou dependentes de um fio que a qualquer momento podem a seu belo prazer cortar e, adicionalmente, de maneira que continuemos de boca calada, aceitando os salários cada vez mais baixos e ‘demos graças a Deus’ (como tenho ouvido tanto por aí dizer…) por ter um emprego… E ainda nos dizem que é só por mais um ano… Corrijo, ‘será’…
Pois, caros colegas, é desta forma que se conseguem sociedades mais eficientes e que a economia (as empresas) ‘ganha(m) saúde’.
Mas este é apenas um dos aspetos, ou ‘pormenores’ deste ‘assalto neoliberal’, se não reparem:
Já se deram conta, de certeza, que temos vindo a observar, paralelamente a esta precariedade laboral, a uma certa ‘burocratização’ do sistema’ Parece-me que sim, pois vejo grande parte dos nossos colegas queixarem-se sistematicamente disso. De facto, esta é outra estratégia ‘complementar’ – o aumento dos níveis administrativos e burocráticos. E é muito simples, meus caros – se queremos ‘controlar a populaça’, temos de dispor de uma força administrativa que o faça. Se formos fazer uma análise minuciosa, percebemos que ao invés da ‘propaganda’ que proclama uma redução de funcionários públicos (a tal ‘massa administrativa’), verifica-se uma cada vez maior estratificação administrativa e económica muito útil para o necessário controlo e dominação do sistema e das pessoas. Ainda têm dúvidas? Observem no nosso MEC (apesar de alguém ter referido há algum tempo a esta parte que haveria de ‘implodir’ – corrijo, de novo, haverá…) as numerosas estruturas administrativas e de gestão de pessoal e de recursos, e que sobressaem quando alguma ‘trapalhada é lançada’ e, vem-se a perceber, não se sabe muito bem de onde veio, quem foi, de facto, o responsável e, se necessário, em último caso, demite-se um qualquer ‘diretor’ de um desses ‘departamentos/gabinetes/direções’, o que lhe quiserem chamar… E quando se liga para ‘lá’, a tentar solicitar uma explicação (minimamente ‘justificada’) sobre um qualquer assunto específico (quantos colegas não terão ligado, neste últimos dias, sobre esta ‘trapalhada’ das colocações e das BCE’s e outras que tais…) e ninguém sabe ‘muito bem’ sobre o assunto e remete-nos para uma outra ‘extensão’, que por vezes, incrível, contradiz a opinião anterior… Não me digam que tal nunca vos aconteceu?

Pois, é uma ‘pesada e intricada’ máquina burocrática…
Mas creio que sabem, por exemplo, que esta não é mais que uma simples prática de negócio que poderemos encontrar nas empresas privadas. Por acaso nunca ligaram para um banco, ou para alguma seguradora, ou empresa de telecomunicações para tentarem resolverem algum assunto que vos ‘incomodasse’? O que se passa normalmente, nesses casos? Pois, fazemos uma chamada, a maior parte das vezes, somos atendidos por um atendedor de chamadas automático, por vezes com mensagens pré-gravadas, que depois de uma ‘lenga-lenga’ de boas vindas e de instruções vagas nos remetem para um ‘menu’. Se por acaso, acertamos na opção certa, talvez consigamos ouvir uma voz ‘humana’, à qual temos de explicar, com muita dificuldade e paciência (pois parece que não sabe nada do que se trata), o que nos levou a efetuar aquela chamada.
É a este ‘procedimento’ que os economistas chamam de ‘eficiência’. Com este ‘modelo’ de gestão, reduzem-se os custos laborais (aumentando-nos os nossos) e, adicionalmente, ‘transfere-se a instrução’ aos diversos estratos administrativos, melhorando, assim, a disciplina e o controlo…
Caros colegas, não estamos mais do que perante ‘técnicas altamente doutrinárias’. Ao permanecerem ‘ocultas’ as responsabilidades, sem rosto, portanto, não se está mais do que a ‘lançar-nos a dúvida’. Quantas vezes se sentiram, nestas e noutras situações tremendamente impotentes? Incrédulos até? A dúvida é uma ótima ‘arma’ para estes ‘senhores’, ainda por cima, quando ‘acompanhados’ de leis perfeitamente ‘desenhadas’ para que ninguém possa ‘sair delas’ (a não ser aqueles mesmos que as ‘desenharam’…). Chomsky chama-lhes “técnicas de disciplinamento, de doutrinamento e de controlo”, as quais ‘cortam’ o nosso contacto com os verdadeiros responsáveis, tal como se passa numa grande organização em que os trabalhadores/funcionários têm de ser disciplinados e obedientes, evitando que desempenhem qualquer papel na produção ou determinação do funcionamento da mesma, pois isso deverá ser responsabilidade exclusiva dos ‘executivos’.

Ainda não tive a oportunidade de afirmar, mas aproveito, agora, para deixar muito claro que as ‘ideias’ que procuro aqui expressar, a partir do pensamento de Noam Chomsky, não são, de modo algum, ideias de ‘esquerda’ (ou de qualquer outra ‘banda’). Basta lerem, por exemplo, John Stuart Mill, uma figura fundamental da tradição liberal clássica, e verão que ele já defendia que os postos de trabalho deviam ser geridos e controlados pelas pessoas que trabalham neles. A isso chama-se, simplesmente, liberdade e democracia (John Stuart Mill, “Principles of Political Economy”, 4: 7). Ou se, porventura, lerem John Dewey, um filósofo social do século XX, notarão que também ele não só defendia já uma educação direcionada para a independência criativa, mas também, por um controlo da indústria pelos próprios trabalhadores; aquilo a que ele chamava de “democracia industrial”. Já dizia Dewey em 1931, que enquanto as instituições cruciais da sociedade – produção, comércio, transportes, meios de comunicação, etc. – não estiverem debaixo do controle democrático, a “política será a sombra projetada no conjunto da sociedade por uma grande empresa” (John Dewey, “The Need for a New Party”). Esta ideia é, portanto, do mais elementar que possamos imaginar e tem raízes profundas já na história do liberalismo clássico.
Assim, penso que deveremos deixar-nos, de vez, de ‘divisões’ ideológicas e/ou partidárias e ‘deitar mãos’ ao trabalho, pois há muito para ‘refazer’ na nossa sociedade (país). Estamos ainda a tempo de contrariar a tentativa de assalto deste ‘modelo de negócio’ que nos querem impor, em todos os aspetos da nossa vida quotidiana (e nem vale a pena falarmos aqui na ‘próxima – eu diria já – privatização do ensino’, tal como aconteceu, ou tem vindo a acontecer com a Saúde).

Termino com mais um ‘falso’ conceito que nos têm vindo a lançar ultimamente. Não sei se já se aperceberam, mas falam-nos muito em ‘flexibilidade’. É talvez das palavras mais propaladas ultimamente no nosso país. Não é, também, por acaso…
É que parte da chamada ‘reforma laboral’ com que temos vindo a ser ‘bombardeados’, consiste, simplesmente, em tornar mais ‘flexível’ o trabalho, em facilitar a contratação e, sobretudo, o despedimento das pessoas. Ora, isto não é mais do que assegurar a maximização do benefício e do controlo. Supunha-se que a ‘flexibilização’ seria uma ‘coisa boa’, mas parece que não é mais do que uma ‘má tradução’ de maior insegurança para todos.
Se não vejamos: ‘falam-nos’ insistentemente, por exemplo, que o MEC tem de reduzir o número de docentes, face ao cada vez menor número de alunos que se verifica por esse país fora. Pergunto: Porque temos de aceitar esta estratégia de ‘insegurança’, com a ‘pressão’ constante sobre a redução do número horários/turmas em face da redução demográfica (real)? Não haverá, por acaso, outras formas de nos podermos ‘ajustar’ a esta variação demográfica, para além desta que nos querem impor à força?
É que, caros colegas, esta ideia de que o trabalho deve submeter-se às condições da ‘flexibilidade’, não é mais do que outra técnica corrente de controlo e dominação. Se não, porque não demitem/despedem também os quadros dirigentes/superiores (aqueles que estão ‘alapados’ ao poder e aos centros de decisão) se, também, para eles se verifica uma redução substancial de serviço/responsabilidades? Para que servem eles, num país que vê cada vez mais reduzida a sua ‘máquina administrativa’? Se o trabalho tem que ser ‘flexível’, porque não se passa o mesmo com a ‘gestão executiva’?[...]»

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