quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Leituras

««"Ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (...), desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dúvida". [Passos Coelho, no encerramento de um seminário sobre Economia Social, organizado pela União de Misericórdias de Portugal]
Portugal tornou-se nos últimos anos um país mais desigual em termos de distribuição de rendimentos e isso danifica seriamente o crescimento da economia, assinala a OCDE, num conjunto de estudos hoje divulgado. Por exemplo, o rendimento dos 10% mais ricos é hoje dez vezes superior ao dos 10% mais pobres.»

Miguel Abrantes, O Mexilhão de Passos 

«É que ao ouvi-lo lembrei-me, sobretudo, dos mais 600.000 desempregados (e inactivos desencorajados). Lembrei-me do aumento da taxa de pobreza para 19% da população e da taxa de privação material severa para 10,9%. Mas também me lembrei dos pensionistas com pensões acima de 250 euros que não têm aumentos desde 2010 (...). Lembrei-me de funcionários com vencimentos congelados ou diminuídos. Lembrei-me da menor comparticipação nos medicamentos ou da redução de descontos nos transportes públicos para os mais velhos. Lembrei-me do aumento brutal dos impostos sobre o trabalho e da sobretaxa do IRS que transformou a classe média em ricos fiscais. (...) Lembrei-me da diminuição inexplicável dos beneficiários de prestações sociais como o rendimento social de inserção, complemento solidário para idosos e abono de família. (...). Neste orwelliano “triunfo dos mexilhões”, todos os mexilhões parecem iguais, mas há uns mais iguais do que outros.»

António Bagão Félix, Uma pérola: quando o mar bate na rocha, quem se lixa (não) é o mexilhão

«Os últimos anos foram inequivocamente os anos do acentuar das desigualdades. No país mais desigual da Europa, era do que não se precisava. De mais desigualdade. Acentuaram-se as desigualdades atendendo a quase todas as dicotomias imagináveis, muitas vezes a coberto de um discurso público cínico, de redução das desigualdades. (...) Um milhão e 200 mil não trabalham, de entre desempregados, inactivos e empregados a tempo parcial que querem trabalhar mais horas. E deste milhão e 200 mil, apenas 30 mil representam inactivos não disponíveis. Neste grande milhão vazio, 32% são jovens entre os 15 e os 24 anos. E 67% estão desempregados há mais de um ano. Fora aqueles que escaparam à miséria ao passar a fronteira. De todos os erros cometidos, o maior terá sido considerar o trabalho como uma simples variável idêntica a muitas outras. Considerar que a explosão do desemprego era algo tão anódino no papel como as variações dos juros da dívida ou da percentagem do défice.»

Miguel Romão, Um milhão e 200 mil

«O combater o abuso, o combater-se as pessoas não precisarem e preferirem receber um subsídio do que estar a trabalhar, isso são fraudes e não devem acontecer. E portanto todo o combate que deve ser feito a esse tipo de situações tem o apoio de toda a gente. Só que infelizmente o nosso problema não é esse. Nós temos relatórios sobre a pobreza em Portugal e é uma coisa bastante preocupante, especialmente porque atinge muitas crianças. E porque atinge já muitas pessoas que estão no emprego. Não é a ideia de que os pobres estão no desemprego. Não: há pessoas na pobreza que trabalham. E ainda por cima o ministro da Segurança Social tem feito um certo alarde sobre o número de cantinas sociais que tem aberto. Eu acho que nós nos devíamos todos envergonhar, como país, do número de cantinas que tem sido aberto. Nós tínhamos ao princípio umas oitenta e já vamos em mais de oitocentas. Isso significa pobreza, necessidade e pobreza.»

Manuela Ferreira Leite, (Política Mesmo, TVI24, 23 Outubro 2014)»

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