quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Mude! A sociedade do Consumo

 
«A obsolescência programada está cada dia mais presente nos diferentes produtos
 O ser humano nunca juntou tantos objetos. Não é novidade que a industrialização provocou um modelo social com base no consumo, pois, para sustentar a sua lógica, precisa produzir e desovar os produtos num tempo cada vez mais reduzido.

Para que esse mecanismo aconteça de modo satisfatório, profissionais criaram diferentes estratégias para que as pessoas contribuíssem incessantemente. Especialistas em marketing, então, começaram a desenvolver estudos a fim de entender o comportamento humano e suas necessidades. Algumas descobertas, baseadas na economia, na sociologia e, principalmente, psicologia, contribuíram de maneira crucial para que se criassem, através de uma comunicação eficiente, novos desejos de consumo entre as pessoas que, em muitos casos, acabaram se confundindo com necessidades.

Foi a partir dessas descobertas que os anúncios publicitários começaram a exagerar nas mensagens oferecidas. Propagandas de carro, por exemplo, sugerem que seu produto torna uma pessoa atraente e poderosa. Vendem-se sensações e não a mercadoria. Do mesmo modo, grifes da moda apresentam propagandas de roupas com pessoas sem roupas. Isso porque, talvez pouco importe o modelo ou a cor do tecido, aqui, a ideia é se beneficiar com os valores que a marca agrega e que quase sempre estão atreladas à sensualidade. Sem contar as de cerveja que ainda sugerem sexualidade, masculinidade e sucesso.

Teóricos como o sociólogo Zygmunt Bauman apontam que as sociedades industriais estão pautadas na descartabilidade. Aproveitando essa lógica, a publicidade adotou palavras de ação como "mudar". Em artigo para a revista E on-line, a antropóloga Rita Alves coloca um exemplo que diz"... Mude a sua sala de estar mudando apenas a mesinha de centro".

Mudar a cada instante é necessário para manter esse modelo social. É tão imprescindível que só as áreas que abrangem a comunicação mercadológica não dão conta! Assim, profissionais como engenheiros e designers tornaram-se indispensáveis, criando a "obsolescência programada" e a "obsolescência perceptiva".

O primeiro termo se refere aos produtos que são programados para ter vida curta. Desta forma, são projetados para quebrarem e serem substituídos por outros. Isso porque, em muitos casos ou na maioria deles, n ão compensa consertar. Os próprios técnicos aconselham o consumidor a comprar outro produto. Talvez seja por esse motivo que a empresa Brastemp deixou de usar a sua frase mais conhecida "não é uma Brastemp", que se referia à durabilidade de suas máquinas. A obsolescência programada está cada dia mais presente nos diferentes produtos. Televisores com tempo útil de tela, celulares cada vez mais frágeis, computadores cujas peças deixam de existir, carros, etc. Isso sem contar as peças de vestuário que desbotam ou esticam após a primeira lavada.

Já o segundo termo diz respeito à defasagem visual. Na obsolescência perceptiva, o que comanda são os estudos que procuram criar produtos com designs modernos. Essa lógica se aplica a todos os produtos, entretanto, a maior atenção deve ser destinada àqueles que possuem mais resistência. A ideia é fazer com que as pessoas tenham a sensação de que o produto é velho, o que transmite a ideia de que a própria pessoa está ultrapassada. Mais uma vez, a tecnologia é exemplo fundamental para se entender esse esforço. Algo bastante perceptivo foi a alteração do design dos monitores de televisão e computadores. Ora, uma empresa que mantém monitores e outras ferramentas tecnológicas com aparência ultrapassada não causará boa impressão em seus clientes e fornecedores que, inconscientemente, julgarão os serviços, produtos e parcerias a partir dessa impressão de obsolescência. A moda e a construção civil são áreas que também utilizam a estratégia de criar "tendências" como verdades, se você não usa tal e qual cor ou modelo, você está ultrapassado.

Pesquisas apontaram que a maioria das pessoas pensa consumir de forma racional. É difícil admitir que, muitas vezes, não controlamos nossos impulsos. Por outro lado, se fizermos uma lista de tudo o que compramos no último mês, veremos que agimos racionalmente e também de modo impulsivo. Se fizermos outra de tudo o que temos em casa, incluindo o que adquirimos por necessidade ou desejo, perceberemos o quanto estamos inseridos na sociedade do consumo que fez com que muitas pessoas confundissem compra com felicidade. Como dizem muitos anúncios: "não vendemos felicidade, mas vendemos óculos, que é quase a mesma coisa".[...]»
Ler mais...
Thífani Postali, Jornal Cruzeiro do Sul, blogs de sociologia

Sem comentários:

Enviar um comentário