Mude! A sociedade do Consumo
«A obsolescência programada está cada dia mais presente nos diferentes produtos
O ser humano nunca juntou tantos objetos.
Não é novidade que a industrialização provocou um modelo social com base
no consumo, pois, para sustentar a sua lógica, precisa produzir e
desovar os produtos num tempo cada vez mais reduzido.
Para
que esse mecanismo aconteça de modo satisfatório, profissionais criaram
diferentes estratégias para que as pessoas contribuíssem
incessantemente. Especialistas em marketing, então, começaram a
desenvolver estudos a fim de entender o comportamento humano e suas
necessidades. Algumas descobertas, baseadas na economia, na sociologia
e, principalmente, psicologia, contribuíram de maneira crucial para que
se criassem, através de uma comunicação eficiente, novos desejos de
consumo entre as pessoas que, em muitos casos, acabaram se confundindo
com necessidades.
Foi a partir dessas descobertas que os
anúncios publicitários começaram a exagerar nas mensagens oferecidas.
Propagandas de carro, por exemplo, sugerem que seu produto torna uma
pessoa atraente e poderosa. Vendem-se sensações e não a mercadoria. Do
mesmo modo, grifes da moda apresentam propagandas de roupas com pessoas
sem roupas. Isso porque, talvez pouco importe o modelo ou a cor do
tecido, aqui, a ideia é se beneficiar com os valores que a marca agrega e
que quase sempre estão atreladas à sensualidade. Sem contar as de
cerveja que ainda sugerem sexualidade, masculinidade e sucesso.
Teóricos como o sociólogo Zygmunt Bauman apontam que as sociedades
industriais estão pautadas na descartabilidade. Aproveitando essa
lógica, a publicidade adotou palavras de ação como "mudar". Em artigo
para a revista E on-line, a antropóloga Rita Alves coloca um exemplo que
diz"... Mude a sua sala de estar mudando apenas a mesinha de centro".
Mudar a cada instante é necessário para manter esse modelo
social. É tão imprescindível que só as áreas que abrangem a comunicação
mercadológica não dão conta! Assim, profissionais como engenheiros e
designers tornaram-se indispensáveis, criando a "obsolescência
programada" e a "obsolescência perceptiva".
O primeiro termo
se refere aos produtos que são programados para ter vida curta. Desta
forma, são projetados para quebrarem e serem substituídos por outros.
Isso porque, em muitos casos ou na maioria deles, n ão compensa
consertar. Os próprios técnicos aconselham o consumidor a comprar outro
produto. Talvez seja por esse motivo que a empresa Brastemp deixou de
usar a sua frase mais conhecida "não é uma Brastemp", que se referia à
durabilidade de suas máquinas. A obsolescência programada está cada dia
mais presente nos diferentes produtos. Televisores com tempo útil de
tela, celulares cada vez mais frágeis, computadores cujas peças deixam
de existir, carros, etc. Isso sem contar as peças de vestuário que
desbotam ou esticam após a primeira lavada.
Já o segundo
termo diz respeito à defasagem visual. Na obsolescência perceptiva, o
que comanda são os estudos que procuram criar produtos com designs
modernos. Essa lógica se aplica a todos os produtos, entretanto, a maior
atenção deve ser destinada àqueles que possuem mais resistência. A
ideia é fazer com que as pessoas tenham a sensação de que o produto é
velho, o que transmite a ideia de que a própria pessoa está
ultrapassada. Mais uma vez, a tecnologia é exemplo fundamental para se
entender esse esforço. Algo bastante perceptivo foi a alteração do
design dos monitores de televisão e computadores. Ora, uma empresa que
mantém monitores e outras ferramentas tecnológicas com aparência
ultrapassada não causará boa impressão em seus clientes e fornecedores
que, inconscientemente, julgarão os serviços, produtos e parcerias a
partir dessa impressão de obsolescência. A moda e a construção civil são
áreas que também utilizam a estratégia de criar "tendências" como
verdades, se você não usa tal e qual cor ou modelo, você está
ultrapassado.
Pesquisas apontaram que a maioria das pessoas
pensa consumir de forma racional. É difícil admitir que, muitas vezes,
não controlamos nossos impulsos. Por outro lado, se fizermos uma lista
de tudo o que compramos no último mês, veremos que agimos racionalmente e
também de modo impulsivo. Se fizermos outra de tudo o que temos em
casa, incluindo o que adquirimos por necessidade ou desejo, perceberemos
o quanto estamos inseridos na sociedade do consumo que fez com que
muitas pessoas confundissem compra com felicidade. Como dizem muitos
anúncios: "não vendemos felicidade, mas vendemos óculos, que é quase a
mesma coisa".[...]»
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