segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A construção social do gosto

Japan: Tasting room, 3Image by kevin (iapetus) via Flickr


António Campos

«É esta sucessão de experiencias, onde avulta a marca da classe a que se pertence, que molda a forma como, em cada momento percepcionamos e apreciamos as coisas e as pessoas e como agimos perante elas. Tal como a diferentes condições de classe correspondem diferentes sistemas de disposições também as práticas dos membros de uma mesma classe tendem a ser idênticas entre si e distintas das práticas dos membros de outras classes (...).

Bourdieu vai testar este modelo teórico investigando empiricamente um tipo de práticas que, aparentemente, não obedecem a qualquer regularidade social- o gosto. Com efeito, é comum a ideia de que as apreciações e as preferências de cada um, nos mais variados planos, dependem apenas de factores de ordem individual e que cada pessoa tem um padrão de gosto singular, não sujeito a condicionamentos sociais de qualquer género.

No entanto, Bourdieu consegue mostrar, de forma muito convincente, que esses condicionamentos sociais existem em larga escala e que há similaridades e diferenças de gosto entre as pessoas que estão directamente relacionadas com as respectivas condições de classe. Através do estudo sistemático 'dos estilos de vida da população francesa, isto é, das suas práticas e consumos em campos variados como a alimentação, o vestuário, a decoração da casa, a música, o cinema, a frequência de museus, a televisão, mas também das suas maneiras de falar e de receber em casa ou das suas opiniões a respeito da política e da sexualidade, entre muitos outros aspectos, Bourdieu chega à conclusão de que gostos comuns tendem a corresponder a pertenças de classe e a trajectórias sociais comuns e gostos diferentes a pertenças de classe e a trajectórias sociais diferentes.»

João Ferreira de Almeida, (adaptado)


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