sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A geração nem-nem

pr 35 actie FNV supermarkten CAO svdkImage by FNV Bondgenoten via Flickr



António Campos


Um estudo que acaba de ser divulgado revela que cerca de 314.000 portugueses com idades compreendidas entre 15 e 30 anos não tem qualquer actividade. Nem estudam, nem trabalham. A, assim chamada, geração nem-nem não é um fenómeno exclusivo de Portugal. Um pouco por toda o Mundo tem sido identificada a mesma realidade. Tipicamente, esta é uma geração potencialmente melhor preparada do que as que a precederame, aparentemente, muito segura de si. São, todavia, presa fácil da degradação do mercado laboral e não conseguem encontrar uma saída airosa, nem combater este estado de coisas. Os sociólogos identificam uma característica muito comum neste grupo: a inexistência de qualquer projecto de vida. As manifestações mais evidentes são a apatia e a indolência. O que os trouxe até aqui? Um ambiente familiar extremamente tolerante, um sistema educativo permissivo e desajustado das necessidades do mercado de trabalho e um contexto geral de facilitismo e de bem-estar que hoje sabemos ser insustentável. A Teresa, há dias, trouxe-nos aqui uma das justificações para que vagas disponíveis não sejam preenchidas: os baixos salários. É uma das faces do problema. A outra diz-nos que, para um grupo mais ou menos numeroso, é muito mais confortável viver à custa dos pais. Os salários são de miséria? É verdade. Mas, não são uma sentença perpétua. E não será  também uma miséria passar o dia a jogar wii e a colocar mensagens idiotas no mural do Facebook? Esta gente tem de saber o seguinte:
- as gerações anteriores estão absolutamente instaladas e não vão prescindir dos direitos adquiridos. Solidariedade inter-geracional? Bah!
- é provável que os pais não possam continuar a sustentá-los;
- o Estado não vai poder sustentá-los;
- o esforço e o trabalho não são uma vergonha. Qual o santo que terá dito a certa gente que é 'cool' não estudar e fazer disso bandeira no bar da escola, ao qual se chega arrastando os pés, de braços caídos e com as calças a cair pelas pernas abaixo? Essas cuecas são Tommy? Uma coisa te digo, Tiago Filipe: a Andreia Paula, sim aquela dos olhos verdes de quem não tiras os olhos, cansa-se facilmente de morcões. Põe lá as costas direitas e o passo firme!
- com todas as críticas que se possam fazer o estupor do país tem algumas coisas boas. A educação é quase de graça. Aproveitem. É das poucas coisas grátis que a vida vos vai dar. Lembram-se do vosso Avô? Pois, combateu na guerra colonial. A vossa avó criou cinco filhos quase sozinha. A vossa mãe passou fome. E o vosso Pai trabalhou numa empresa metalúrgica, com pouco salário e nenhuns direitos. Vidas um bocadinho mais difíceis, não? E deram-lhes a volta.
- as novas oportunidades não valem nada. Se não podem trabalhar, estudem. Mas, estudem coisas sérias. O mercado laboral não é estúpido e sabe distinguir.
- um emprego conquista-se. Mandem currículos, dirijam-se a empresas, batam às portas. Mandaram mil candidaturas? Mandem mais dez. Todos os dias. Não conseguem emprego? Façam voluntariado. Dar é receber. Nem que seja experiência e contactos.
- o que aí vem é pesado. É importante que cada um faça a sua parte para, depois, ter legitimidade para reclamar. O teu pai vive do rendimento mínimo? Tu não o vais ter!
Não tomo a parte pelo todo. Todos os dias me cruzo com gente jovem de enorme valor. Mas, o dado sociológico é que a parte está a a crescer. Em direcção a lugar nenhum.

 de Rui Rocha
 Dez2010


Enhanced by Zemanta

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A ciberguerra do Wikileaks

Julian Assange at New Media Days 09 in Copenhagen.Image via Wikipedia



António Campos


Como documentei no meu livro Comunicação e Poder, o poder baseia-se no controle da comunicação. A reacção histérica dos Estados Unidos e outros governos contra o Wikileaks confirma isso. Entramos numa nova fase da comunicação política. Não tanto porque se revelem segredos ou fofocas como porque eles se espalham por um canal que escapa aos aparatos de poder.

O vazamento de confidências é a fonte do jornalismo de investigação com que sonha qualquer meio de comunicação em busca de furos. Desde Bob Woodward e sua "Garganta Profunda" no Washington Post até as campanhas de Pedro J. [Ramírez, fundador do diário El Mundo] na política espanhola, a difusão da informação supostamente secreta é prática usual protegida pela liberdade de imprensa.

A diferença é que os meios de comunicação estão inscritos num contexto empresarial e político susceptível a pressões quando as informações resultam comprometedoras. Daí que a discussão académica sobre se a comunicação pela internet é um meio de comunicação tem consequências práticas. Porque se o é (algo já estabelecido na investigação) está protegida pelo princípio constitucional da liberdade de expressão, e os veículos e jornalistas deveriam defender o Wikileaks porque um dia pode ser a vez deles.

Ordem de prisão

Ocorre que ninguém questiona a autenticidade dos documentos vazados. De facto, destacados periódicos do planeta publicaram e comentaram esses documentos para regozijo e educação dos cidadãos que recebem um cursinho intensivo sobre as misérias da política nos corredores do poder (com efeito, por que Zapatero está tão preocupado?).

O problema, diz-se, é a revelação de comunicações secretas que poderiam dificultar as relações entre estados (o perigo para as vidas humanas é baboseira). Na verdade seria preciso sopesar esse risco contra a ocultação da verdade sobre as guerras aos cidadãos que pagam e sofrem por elas.
 

Em qualquer hipótese, ninguém duvida que, se essas informações chegassem aos meios de comunicação, estes também quereriam publicá-las (se poderiam é outra questão). E mais: uma vez difundidas na rede, publicam-nas. O que está em questão é o controle dos governos sobre seus próprios vazamentos e sobre sua difusão por meios alternativos que escapam à censura directa ou indirecta. Um tema tão fundamental, que motivou uma reacção sem precedentes nos Estados Unidos, com apelos ao assassinato de Assange por líderes republicanos e até colunistas do Washington Post e uma gritaria mundial generalizada de Chávez até Berlusconi, com a honrosa excepção de Lula e a significativa reacção de Putin.

A esta cruzada para matar o mensageiro se uniu a justiça sueca numa história rocambolesca onde o pseudofeminismo se alia à repressão geopolítica. Dá-se que as namoradas suecas de Julian Assange (alguém investiga sua conexão com serviços de inteligência?) o denunciaram porque em pleno ato (consentido) a camisinha rasgou, ela diz que não queria continuar e Assange não pôde ou não quis interromper o coito e isso, segundo a lei sueca, poderia ser violação. O que não impediu que a violada organizasse no dia seguinte em sua casa uma festa de despedida para Assange.

A partir de tamanho acto de terrorismo sexual, a Interpol emite uma euroordem de prisão com nível de alerta máximo, desmentindo que seja por pressão dos Estados Unidos. E quando Assange se entrega em Londres, o juiz não aceita fiança, talvez para enviá-lo aos Estados Unidos via Suécia.

Infraestrutura icónica

Com o mensageiro atrás das grades, falta mandar para lá a mensagem. E aí começam pressões que levam a que PayPal, Visa, MasterCard e o banco suíço do Wikileaks fechem suas contas, que cancelem seu domínio e que a Amazon o remova de seus servidores (o que não impede a Amazon de oferecer por 7 dólares o conjunto completo de e-mails vazados).

A contraofensiva internauta não se fez esperar. Os ataques de serviços de inteligência contra a rede do Wikileaks fracassaram porque proliferaram as redes espelho, ou seja, cópias imediatas das redes existentes, mas com outro endereço. A esta altura há mais de mil em funcionamento.

Em represália à tentativa de silenciar o Wikileaks, Anonymous, uma popular rede hacker, coordenou ataques contra as empresas e instituições que o fizeram. Milhares de voluntários se juntaram à festa, utilizando o Facebook e Twitter, embora com crescentes restrições. Os amigos do Wikileaks no Facebook superaram o milhão e aumentam a uma pessoa por segundo. 
Wikileaks distribuiu a 100.000 usuários um documento encriptado com segredos supostamente mais danosos para os poderosos, cuja chave se espalharia caso a perseguição se intensifique.

Não está em jogo a segurança dos Estados (nada do revelado põe em perigo a paz mundial nem era ignorado nos círculos de poder). O que se debate é o direito do cidadão de saber o que fazem e pensam seus governantes. E a liberdade de informação nas novas condições da era da internet. Como dizia Hillary Clinton em sua declaração de Janeiro de 2010: "A internet é a infraestrutura icónica da nossa era… Como acontecia com as ditaduras do passado, há governos que se voltam contra os que pensam de forma independente usando esses instrumentos". Agora ela aplica a si mesma essa reflexão?

Novas gerações

Porque a questão fundamental é que os governos podem espionar, legal ou ilegalmente, aos seus cidadãos. Mas os cidadãos não têm direito à informação sobre aqueles que actuam em seu nome, a não ser na versão censurada que os governos constroem. Neste grande debate vão ver quem realmente são as empresas de internet autoproclamadas plataformas de livre comunicação e os meios de comunicação tradicionais tão zelosos de usa própria liberdade.

A ciberguerra começou. Não uma ciberguerra entre Estados como se esperava, mas entre os Estados e a sociedade civil internauta. Nunca mais os governos poderão estar seguros de manter os seus cidadãos na ignorância de suas manobras. Porque enquanto houver pessoas dispostas a fazer leaks e uma internet povoada por wikis surgirão novas gerações de wikileaks.

Manuel Castells, em texto publicado no jornal La Vanguardia de 11 de Dez. de 2010
https://blogger.googleusercontent.com/tracker/8297938-5887241494552942720?l=pimentanegra.blogspot.com


Enhanced by Zemanta

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A guerra é um negócio sujo

Four legendary Marine Officers photographed at...Image via Wikipedia



António Campos


A guerra não tem nada de nobre, romântico, limpo, ou honroso para aqueles que nela participam. Pode na melhor das hipóteses ser um mal necessário, mas nunca em circunstância alguma deixa de ser um mal. Ultimamente temos assistido a um branqueamento das guerras, não são mostradas atrocidades, muitas vezes nem se contam os mortos.
Assim, tendo em conta o que foi decidido na cimeira da NATO, é uma boa altura para recordar as palavras doMajor-General Smedley Butler, USMC, num discurso proferido em 1933:

A guerra é um negócio sujo
A guerra é um negócio sujo, uma vigarice. Uma vigarice é melhor descrita, creio eu, como qualquer coisa que não é o que parece para a maior parte das pessoas. Apenas um grupo restrito de “insiders” sabe do que se trata realmente. É conduzida para proveito de uns poucos à custa das massas.
Eu acredito numa defesa adequada da linha costeira e nada mais. Se uma nação vem até aqui para lutar, nós lutaremos. O problema com a América é que quando o dólar apenas dá a ganhar 6% no país, então ela torna-se nervosa e vai para o ultramar para conseguir 100%. Então, a bandeira segue o dólar e os soldados seguem a bandeira.
Eu não iria outra vez para a guerra como o fiz no passado para proteger uns desprezíveis banqueiros. Apenas existem duas coisas pelas quais deveríamos lutar. Uma é a defesa dos nossos lares e a outra é a defesa da constituição. A guerra por qualquer outra razão é apenas um negócio sujo.
Não há um truque utilizado pela máfia a que o gang dos militares seja estranho. Tem os seus bufos para indicar os inimigos, tem os seus “homem músculo” para destruir os inimigos, tem os seus “homens cérebro” para planear a guerra e tem o seu “big boss” o capitalismo super nacionalista.
Pode parecer estranho, a um militar como eu, adoptar esta comparação. A verdade impele-me a isso. Eu gastei 33 anos e 4 meses no serviço militar activo como membro da força militar mais ágil deste país, o corpo de marines. Eu servi em todas as patentes deste segundo tenente até major-general. E durante esse período, passei a maior parte do tempo a fazer de “homem músculo”, em grande estilo, para o grande negócio, para Wallstreet e para os banqueiros. Em suma, eu fui um mafioso e um gangster para o capitalismo.
Eu suspeitava que era uma parte de um negócio sujo na altura. Agora tenho a certeza disso. Como todos os membros da profissão militar, eu nunca tive um pensamento próprio até à altura de deixar o serviço. As minhas faculdades mentais permaneceram em animação suspensa enquanto obedecia às ordens dos superiores. Isto é típico de toda a gente no serviço militar.
Eu ajudei a fazer do México, especialmente Tampico, um sitio seguro para os interesses americanos do petróleo em 1914. Eu ajudei a fazer da Cuba e do Haiti lugares decentes para os rapazes do National Bank receberem os seus lucros. Eu ajudei a violar meia dúzia de republicas da América Central para beneficio de Wallstreet. O registo de práticas mafiosas é longo. Eu ajudei a purificar a Nicarágua para a casa internacional de banqueiros dos Irmãos Brown em 1909-1912. Eu levei a luz à Republica Dominicana por causa dos interesses do açúcar em 1916. Na China eu ajudei a fazer com que a Standard Oil não visse as suas acções molestadas.
Durante esses anos, eu tinha, como diriam os rapazes da sala do fundo [NT: mafiosos], um bom negócio. Olhando agora para o passado, eu sinto que poderia ter dado a Al Capone alguns conselhos. O melhor que ele conseguiu fazer foi conduzir os seus negócios em três distritos. Eu operei em três continentes!

Helder Guerreiro


Enhanced by Zemanta

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A caixa mágica de Bernard Madoff

Bernard Madoff under house arrest 1Image by Red Carlisle via Flickr

António Campos


O aumento da produtividade pela incorporação de novas tecnologias impulsionada pela concorrência global, tornando supérfluo o “trabalho abstrato” na produção de mercadorias, manifesta-se nos negócios como aumento do capital fixo em detrimento da força de trabalho, desemprego estrutural e queda da rentabilidade na economia real. Como não há capitalismo sem lucro empresarial, ou seja, sem produção de mais-valia, busca-se na criação de capital fictício um simulacro da acumulação em crise. A partir daí, qualquer absurdo que aparentemente possa contribuir para o não desmoronamento do sistema é aceito como lógico, mesmo que no dia seguinte seja descartado como lixo. É nesse contexto que certas criações do mercado só aparecem como “loucura” a posteriori, quando devoram seus criadores.

Uma dessas invenções, o caso Madoff, um fundo com mais de 50 bilhões de dólares, por envolver grupos financeiros e gente considerada importante no mercado, sendo ele mesmo uma dessas personagens referenciada na Wall Street, é o que mais repercutiu no show midiático dos últimos anos. Antes de se desfazer no ar, aparecia aos olhos de ambiciosos investidores como uma caixa mágica onde seu dinheiro entrava e saia duplicado. Como lá dentro não existiam máquinas da casa da moeda capazes de transformar papel em branco em notas verdes, todos sabiam que algum tipo de fraude era praticado. Inclusive grandes bancos como o HSBC, onde 33% de todos os recursos encaminhados para o fundo Madoff passaram por suas subsidiárias.
 

Somam-se ao HSBC uma longa lista de outros bancos americanos e europeus: Santander, JPMorgan, UBS, Citigroup, UniCredit e o Sonja Kohn, só para citar alguns, que com seus fundos alimentavam a trama sabendo que o esquema era insustentável, segundo denuncia de Irving Picard, administrador encarregado de recuperar o dinheiro perdido. Como fora possível a aceitação de tamanha fraude por investidores e instituições que conheciam as regras do mercado e pareciam fora de qualquer suspeita aos olhos da sociedade? Perguntam-se atônitos alguns analistas.
 

O esquema Ponzi como o aplicado por Madoff, onde um fundo de investimento paga gordos rendimentos aos primeiros investidores com o dinheiro investido pelos últimos a entrarem, é mais comum no aparente sério mundo dos negócios do que imaginam alguns mortais. É a forma extrema de se “multiplicar” o dinheiro sem nenhuma mediação, movido pela lógica da geração de capital fictício. Nesse mercado de ilusões, o real só aparenta ser real nos momentos de crise. Mesmo assim de forma passageira, fugaz, mas com suficiente força para causar estragos significativos. Passado este momento tudo continua movendo-se como dantes até um novo terremoto.

A prática do esquema Ponzi são formas não mais encobertas pelo véu da dissimulação, que esconde a fraude do capital em processo de interrupção da acumulação na economia real. Quando revelado, geralmente ultrapassa os limites aceitos na simulada acumulação das bolhas de todo espécie e na impressão de dinheiro sem substância pelos Estados nacionais. Impelido pela mesma lógica especulativa que faz a máquina do capital fictício mover-se, deixa os investidores seguros, mesmo aqueles com mais consciência do risco, pois é parte do jogo do mercado. Só se manifesta como “escândalo”, quando esgotado, desmorona transformando em cinzas o dinheiro investido, sacudindo da letargia os sistemas regulatórios que tudo sabiam, mas se recusavam investigar, achando que deveria ficar por conta do mercado corrigir o que poderia ser considerado aberrações, das quais provavelmente se beneficiavam.

A discussão entre os que defendem que sejam utilizados os mecanismos do mercado para coibir os excessos e os que defendem a intervenção regulatória do Estado para corrigir as imperfeições, é vazia de conteúdo. Pois o Estado quando regula, ou é chamado para tanto geralmente nas crises, busca intervir não contra o capital, mas para garantir sua reprodução. Não podendo ser impeditiva da acumulação, a regulação torna-se, entretanto, um problema para capitalismo em crise que já não mais consegue sobreviver sem crédito ao infinito, bolhas e endividamento estatal, fábricas de capital fictício. O excesso que deveria ser reprimido, a profusão de capital fictício, funciona hoje como pulmão artificial que produz o oxigênio necessário à economia real moribunda. Cortando-se este suprimento o paciente pode morrer, e os agentes do Estado e do mercado sabem muito bem disso, daí o insucesso das tentativas recentes de aplicar regras mais rigorosas na regulação.
 

É, portanto, a crise da economia real, que ao gerar a necessidade de circulação de dinheiro sem substância para manter as aparências de que o valor não sofreu descontinuidade e continua em seu movimento de valorização, quem alimenta a formação de capital fictício e o surgimento das pirâmides financeiras. Quando olhamos acuradamente as engrenagens do capital financeiro que sustenta precariamente o funcionamento do capitalismo mundial, veremos que a caixa mágica de Bernard Madoff, não é nem mais nem menos absurda do que o sistema que a gerou.

14.12.2010
https://blogger.googleusercontent.com/tracker/28470385-2315563816073720467?l=rumoresdacrise.blogspot.com Rall


Enhanced by Zemanta