Só eu sei o quanto eu
não sei, mas do pouco que sei compreendi, nestes anos de estudo, que o
principal conceito capaz de tornar a vida em sociedade possível é a
confiança. É precisamente sobre isso que lhe convido a dialogar neste
artigo. Começarei pela
etimologia como é meu costume, depois a intencionalidade é demonstrar como essa
palavra pode influenciar suas ações futuras. Notoriamente há um fim último,
qual seja contribuir com esse escrito para que seus dias sejam os mais suáveis
possíveis.
1 – A palavra
confiança a partir de sua etimologia
As palavras em nossa
língua portuguesa com começam o prefixo co, traduz a ideia de
“junto à”. Isso também ocorre com a palavra confiança. Essa é mais uma
palavra de origem latina. Por exemplo: cooperação traduzindo a ideia de que é
aquele que trabalha com o outro; Concórdia = no sentido de o meu “coração se
aproxima do outro” e assim por diante. Já escrevi isso no artigo sobre o
principal dos males: a inveja.
No livro de Napoleão
Mendes de Almeida, sobre Gramática Latina, o verbo confiar em latim está
assim escrito assim: fido, is, fidere. No Dicionário Aurélio
confiar também significa ter fé. Em latim fidis. Observe que são
palavras com significado próximo. Numa
certa feita um amigo traduziu esse conceito confiança como sendo “os fios que
estão juntos”. Em outras palavras: confiança designa à “ação de ter fé
com o outro”. Palavras minhas.
Por isso no
Dicionário Aurélio que foi editado pela Folha de São Paulo, essa palavra tem o
seguinte significado: “Segurança íntima de procedimento. Segurança e bom
conceito que inspiram as pessoas de probidade, talento, descrição, etc.
Familiaridade”. Logo, nesta definição é necessário à existência de dois ou mais
em processo de interação para que a confiança se estabeleça. Visto assim,
podemos afirma que a mesma pressupõe a reciprocidade. Concordo que isso é
absolutamente verdadeiro.
Há uma analogia – em
Filosofia significa raciocínio por semelhança – que traduz ainda melhor o que é
a confiança no meu entendimento. Imagine uma camisa. Notoriamente que tem
manga. Depois imagine um casamento. O marido “pula a cerca” uma vez e mulher
descobriu. Dá aquela confusão! Acabou abrindo um buraco na manga da camisa. Ele
pediu perdão e ela perdoa. Pronto! O “buraco” foi fechado, costurado. Tudo
volta ao normal.
Mais tarde esse
marido apronta uma segunda vez, depois uma terceira. Na quarta não tem mais
jeito. O “buraco” ficou tão grande que a manga cai. O que ocorreu? Acabou a
confiança. Criou-se o quê? Um clima de desconfiança. É por isso que em latim desconfiar
se escreve diffido, is. Portanto os “fios” já não estão juntos. Não
há mais nada que possa segurar essa relação. No artigo que lhe escrevi sobre a
inveja explicitei que as palavras que começam com o prefixo di
ou de indicam separação, rompimento, etc. Lembra-se da deusa
da inveja. Como era o nome dela?
2 – As imbricações
entre confiança e o tecido social
Qual é a espinha
dorsal que faz com que o exército e a policia consigam manter tais instituição
em pé? A disciplina. Mesmo nessas a relação de confiança entre os atores nelas
envolvidos é fundamental. Nas
demais instituições existentes, a confiança é a coisa mais importante. Acabou a
confiança os casamentos se desfazem. As empresas quebram, os amigos se separam,
a relação professor X aluno fica insustentável, etc. A vida em sociedade, portanto, só é possível de
fato se houver uma relação de confiança entre seus membros.
Entretanto, a
confiança só existe se houver conjuntamente outros valores. É possível uma
relação de confiança entre duas pessoas sem haver a honestidade? Creio que você
concorda comigo que a resposta é não! Um exemplo disso é o que está
acontecendo o nosso senador Demóstenes. Seus eleitores, na sua grande maioria,
já não confiam mais nele. Por que será, não é mesmo? Uma vez eu li uma
frase que permanece comigo até hoje. É essa: a confiança a gente não impõe,
conquista. De fato me parece que tem fundamento. Para
que eu me torne amigo de uma pessoa quanto tempo é necessário? Aristóteles
respondeu isso ao seu filho dizendo assim: “para que eu seja amigo de alguém é
necessário antes que eu coma o sal com ele”. Isso está no livro VIII da obra
Ética a Nicômaco.
Se eu pudesse lhe dar
um conselho lhe diria para você não constituir sociedade com alguém sem antes
comer um saco de sal com essa pessoa. Da mesma forma, só vale a pena casar com
alguém depois de conhecer bem o outro ou a outra... rs! Talvez seja por isso
que em muitos lugares – principalmente no sítio – o namoro dura tanto.
Lembro-me que quando era pequeno lá no sítio havia casais de namorados a seis
anos juntos. Só que o calorão é grande... rs! Eu
já errei muito neste sentido. As vezes uma pessoa parecer ser de extrema
confiança. De repente ela tem uma atitude de inveja em face de ti, que abre um
buraco tão grande na manga da camisa que parece não haver mais conserto...
Sem confiança a vida
em sociedade tornar-se-á um caos. A própria personalidade de alguém que vive em
um ambiente que há falta de confiança é bem diferente daquela que convive em um
ambiente onde a confiança reina. Você concorda comigo acerca disso? Pense
nisso. O valor de uma marca
é tanto maior, quanto maior for à confiança nela existente. Também é verdade
que as vezes nome de alguém acaba sendo determinante no ato da compra um
produto. O que estou querendo-lhe dizer é que nosso nome não deixa de ser uma
“marca” de maior ou menos valor. Dependerá da capacidade de confiança que ela
inspira.
A título de
ilustração cito aqui a Filosofia Clínica. Quando ela surgiu no Brasil a cerca
de 20 anos, muitos de pronto a rechaçaram! Contudo, hoje ela continua a
aumentar o número de simpatizantes. Só há
uma coisa que para em pé! O quê? A verdade! Lembre-se desse provérbio: veritas
filia temporis, ou seja, a verdade é filha do tempo. Interessante: essa
é mais uma palavra que está intimamente ligada à confiança. Quanto mais
verdadeiro eu for, maior a possibilidade dos outros terem confiança em mim.
Novamente cabe aqui a filosofia de Espinosa.
Quando que algo tende a permanecer na história? Quando é bom para mim e para o
conjunto da humanidade. Assim é Filosofai Clínica.
Dessa forma cabe a
cada um de nós pensarmos qual é a qualidade das relações sociais que eu
estabeleço com os demais atores. Para Habermas tais relações podem se dar no
âmbito do mundo da vida ou no âmbito do mundo da ações estratégicas.
A confiança plena está associada ao primeiro. Entretanto numa próxima ocasião
lhe escrevei mais acerca disso. Razão pela qual voltaremos a essa tema. Estou terminando de lhe escrever esse texto no dia
06/04/12 as 2hs25. Já é sexta-feira santa para os cristãos. Poucas horas atrás
os cristãos relembraram a cerimônia do lava pés. Para mim o gesto mais
significativo que já conheci capaz de aumentar as relações de confiança entre
as pessoas. O Lava Pés, que tem como pressuposto a humildade como uma das
virtudes importantes.
Vou lhe escrever
também em outro momento sobre a relação entre o perdão e a confiança. Na
ocasião destacarei a importância da pintura do quadro “O Retorno do Filho
Pródigo”, de Rembrandt (1606-1669). O original está no museu Hermitage, em São Petersburgo na Rússia.
Ivo José Triches, de O dia D: Reflexões Filosóficas
Abril 2012
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