sexta-feira, 26 de abril de 2013

Não seria de começar pela educação?



 
 A opinião pública acorda, os governos seguem-na. Portugal não é excepção.

Parece que a sociedade percebeu que os bandos de crianças e adolescentes fazem demasiado barulho pelas ruas quando os adultos decidem dormir, que partem o que lhes aparece à frente, que sujam as ruas e os becos...

Parece que a sociedade percebeu que esses bandos não lhe provocam apenas perturbação mas também preocupação: aparecem espancados, violados, doentes, mortos...

Quem pode ficar indiferente a isso?

E, devemos continuar a perguntar: está certo deixar as crianças e adolescentes entregues si próprios e uns aos outros, quando se sabe bem que correm todos os riscos do alargado menú que cidades grandes ou pequenas, vilas e aldeias disponibilizam?
Se não está certo, porque é que se chegou a um estado de (quase) abandono, de negligência dos que são mais vulneráveis e que, por isso mesmo, os adultos deveriam proteger?

É pelo medo de se parecer moralista, retrógrado, antigo? De não se "desintegrarem" os menores dos seus grupos, de não causar sentimentos de "marginalização" ou outros que se supõem negativos? De não se querer negar-lhes os direitos que reivindicam, de se confiar incondicionalmente neles? De desejar a sua felicidade, de não lhe causar qualquer impedimento na concretização da sua juventude? É isto tudo, numa mistura confusa, na qual não se quer pensar?

Ou, é simplesmente porque se entende que as coisas se foram tornando assim, e estão assim, e não há nada a fazer, restando pagar-se-lhes um táxi, dar-se-lhe um telemóvel e rezar para que enviem um sms e para que nada de (muito) dramático lhes aconteça?

O nosso governo anunciou que este não é o caminho, que pais, professores e sociedade em geral têm de assumir o controlo da situação. Há que tomar medidas...

Sim senhor, vamos a medidas:
quais são elas?

Ao que percebi só uma e tão muito gasta quanto inútil: proibir o acesso a bebidas alcoólicas a todos o que ainda não completaram os 18 anos para os "desincentivar de beber"... e vigiar e punir (as palavras de Michel Foucault constantemente repetidas)... Como se faz noutros países...

Médicos aplaudiram-na, tão preocupados que estão com o estado em que lhes chegam os seus jovens doentes, cada vez mais jovens e cada vez mais doentes. Percebo-os.

Mas não seria de começar pela educação? Não seria de alguém (mas quem?) dizer, serena mas afirmativamente, aos adultos que têm de assumir, em consciência, o dever de cuidar e de educar os mais novos?

Assumir o dever de educar é, afinal, preparar o outro, que ainda não é adulto, para o exercício duma faculdade especificamente humana que define o adulto: o livre arbítrio.

Helena Damião, do Rerum Natura - na íntegra
Abril 2012