terça-feira, 24 de maio de 2011

O Estado, os imperativos da cidadania, a justiça social...

Social Justice Solidarity: DiscussionImage by Grant Neufeld via Flickr
António Campos



“Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos” é um ensaio notável. É o último dos textos de referência de um dos principais historiadores e pensadores contemporâneos, recentemente desaparecido, Tony Judt (Edições 70, 2010). É de leitura obrigatória, seja em que lugar do espectro político nos posicionemos.
A que tipo de reflexão se acomete este brilhante intelectual? Andamos erráticos, descontentes, exaustos pela obsessão em fazer riqueza, assistindo a crescentes disparidades sociais, ajoelhados pelo culto da privatização e das excelências do sector privado. Erráticos e incapazes de conceber alternativas. Tony Judt não esconde a sua inclinação pelos princípios estruturais da social-democracia: são tolerantes na cultura e na religião e acreditam na virtude da acção colectiva para o bem comum.

É crítico com eles: “Os sociais-democratas de hoje pedem desculpa e estão à defesa. Têm deixado sem refutação os críticos que afirmam ser o modelo europeu demasiado caro ou economicamente ineficaz. E contudo o Estado-providência mantém a popularidade de sempre junto dos seus beneficiários. Em lado algum na Europa existe um eleitorado a favor da abolição dos erviços de saúde públicos, do ensino gratuito ou subsidiado ou da diminuição da prestação pública dos transportes e outros serviços essenciais”.

O colapso bancário em massa fez despertar as consciências, mas nenhuma revolução das ideias foi posta em marcha. Há muitas razões para estar zangado com as desigualdades e as injustiças, a exploração e a corrupção. Mas não basta identificar os defeitos e espalhar retórica. A escolha já não está entre o Estado e o mercado, mas entre dois tipos de Estado. Há que reimaginar o papel do Governo. Daí este livro.

Vamos aos sintomas críticos. Do fim do século XIX até aos anos 70, as sociedades avançadas reduziram as desigualdades: graças ao imposto progressivo, subsídios estatais, fornecimento de serviços sociais contra os infortúnios. Daí para cá vivemos sob o domínio da abundancia privada e penúria pública. Temos hoje problemas sociais que estavam completamente esquecidos. A riqueza total esconde escandalosas disparidades distributivas. Voltámos a exibir a grande riqueza e a conceder-lhe estatuto de fama, as indústrias de entretenimento estão ao serviço deste modelo. Temos agora novas leis dos pobres com regras muito precisas de candidatura, por vezes de grande humilhação. As autoridades públicas estão permanentemente desconfiadas. Vivemos de tal modo impregnados sob a exaltação do privado e do sucesso dos ricos e das vantagens do mercado livre, que dificilmente sabemos raciocinar fora do contexto dos lucros e das perdas. De facto, a política pública passou a ser um mero cálculo económico. Acontece que os mercados não geram automaticamente confiança, precisam de regulação, há interesses prevalecentes entre a iniciativa individual e coesão social.

O que leva ao autor a questionar o mundo que se perdeu com o advento do triunfalismo individualista, a apoteose do sucesso no fabrico da riqueza. Os liberais, à esquerda e à direita, entenderam-se sem grandes constrangimentos quanto ao modo de erradicar o desemprego, a inflação e a insatisfação das necessidades elementares, estabelecer um consenso sobre políticas sociais e souberam tirar benefícios da maior igualdade daí adveniente. Nem à esquerda nem à direita se acreditava na magia do mercado, aceitou-se o planeamento indicativo, os objectivos das políticas sociais e o saber viver numa comunidade de confiança. Os conservadores dos anos 50 e 60, com Raymond Aron ou Isaiah Berlin eram liberais clássicos, aceitavam o primado da ética na política.

Depois deu-se uma revolução intelectual que se pode resumir na visão do mundo de Margaret Thatcher: “Sociedade é uma coisa que não existe, existem só indivíduos e famílias”. Um conjunto de economistas oriundos da Europa Central, todos fugidos às ditaduras, vieram em coro apelar ao fim da intervenção do Estado, do planeamento, do sector público, das políticas sociais. O privado passou a ser enaltecido e o lucro máximo elogiado. Entrara-se na era das privatizações e no ódio ao sector público. Nasceu assim o défice democrático que hoje nos abala e que levou à erosão do conceito do bom comum.

Nem o fim do comunismo alterou este estado de coisas, a tal ponto que a Europa de Leste foi entregue a predadores. Hoje, palavras como socialismo, revolução, assistência social são olhadas com suspeição. Tony Judt vem propor que se reformule o diálogo público, começando pelas instituições (novas leis, regimes eleitorais diferentes, restrições aos grupos de pressão e ao financiamento político…) e aprender a saber viver com a complexidade e a multiplicidade de interesses em conflito. O que significa que há muita coisa a redefinir, desde a riqueza, à justiça, à equidade e ao bem-estar. É indispensável regressar à questão social, reinstalar as massas trabalhadoras nos ideais da comunidade. Temos de decidir o que o Estado deve fazer a fim de que homens e mulheres tenham vidas decentes, escreve Judt. A mudança tecnológica vai pesar no conjunto de todas as outras alterações. Como ele também observa: “A única maneira de o mundo desenvolvido poder reagir competitivamente é explorando a sua vantagem comparativa nas indústrias avançadas com grande investimento de capital, onde o conhecimento contém tudo. Nestas circunstâncias, a procura de novas qualificações avança mais depressa que a nossa capacidade de ensinar, podem ficar para trás até os trabalhadores mais bem preparados”. O papel do Estado precisa de ser reequacionado, independentemente daquilo que pensarmos acerca da filantropia ou das acções caritativas.

É um dos aspectos mais elevados do ensaio de Tony Judt, esta proposta de uma nova narrativa moral, o saber tirar partido da globalização, o saber olhar o mercado sem desdém e os serviços públicos sob o primado da sustentabilidade e do desenvolvimento humano. Orienta um olhar revigorado sobre os princípios da social-democracia e sugere que saibamos aprender com as lições de um passado de solidariedade, fazendo do descontentamento actual a alavanca para o indivíduo reencontrado com a comunidade, ambos dispostos a partilhar as riquezas e os sacrifícios.

Beja Santos
Nov.2010

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sexta-feira, 20 de maio de 2011

E se o sonho da moeda única acabar em desastre?

This image shows Angela Merkel who is the Chan...Image via Wikipedia



António Campos


Há uma razão simples, crua, para esta semana vários líderes europeus, de Angela Merkel a Herman van Rompuy, terem dito que o euro estava em risco: a crise mostrou que o actual edifício da moeda única não tem forma de se manter de pé. Pode ser amparado, mas nunca sobreviverá tal como o conhecemos. Resta saber se pode ser reconstruído, mas já lá vamos.

Primeiro que tudo, o que é que se passou com a Irlanda? O que é que levou um país cujo produto per capita é sensivelmente o dobro do português, com uma economia privada saudável, um país com um salário mínimo três vezes mais elevado do que o nosso, a adoptar uma redobrada austeridade que passa, também, por reduzir esse salário mínimo? Talvez esse mesmo salário mínimo seja um entre muitos sintomas de alguns dos maus hábitos que levaram o “tigre celta” a engordar e a perder os seus reflexos.

Entendamo-nos: ao contrário do que muitos repetem por aí, há muita coisa que nos aproxima da Irlanda. E o pior é que o que nos aproxima da Irlanda são os defeitos comuns, não as virtudes que esta tinha e ainda tem. Apesar da crise bancária. Esta semana, num texto no Financial Times, um antigo taoiseach (nome dado ao primeiro-ministro na Irlanda), Garret FitzGerald, atribuía os males do seu país a, no início desta década, se ter aumentado a despesa pública, o que provocou um aumento de preços e salários que degradou a competitividade da economia e permitiu um boom imobiliário irresponsável; esse boom, por seu turno, gerou impostos que criaram a ilusão de que o orçamento estava equilibrado quando já não era sustentável. A irresponsabilidade de alguns bancos fez o resto. Num outro texto, este bem mais colorido e publicado na Spectator, Kevin Myers, um colunista do Irish Independent, explicava como um mirabolante plano de novas auto-estradas, gastos sumptuários nas empresas públicas e reformas milionárias dos bonzos do regime tinham contribuído para o desastre. Ou seja, males que também nos são familiares…

Mas isto é a parte má da Irlanda, aquela que nos faz sentir (à excepção do sistema bancário) relativamente parecidos. A parte boa é aquela que está agora em risco: um tecido económico pujante que beneficia de um IRC especialmente baixo (apenas 12,5 por cento, mas mesmo assim capaz de gerar receitas em percentagem do PIB semelhantes às do IRC alemão), de uma mão-de-obra qualificada, de muito investimento estrangeiro e da especialização em dois sectores de ponta, as novas tecnologias e os produtos farmacêuticos. Este sector privado é tão competitivo que, apenas por efeito das medidas de austeridade já tomadas, está a recuperar parte da sua competitividade. Mais: a Irlanda, ao contrário de Portugal, da Espanha ou da Grécia, está de novo perto de ter uma balança de transacções positiva.

Apesar da irritação alemã com o baixo valor da taxa de IRC na Irlanda, a verdade é que, muito por efeito do sector exportador, o antigo “tigre celta” esteve sempre mais próximo de ser um “bom aluno” do clube da moeda única do que Portugal ou a Grécia. Esta última nem se esforçou, tratando de aldrabar alegremente os seus números, algo que a eurocracia tolerou. Já Portugal, para além de ter sido o primeiro país a incumprir o Pacto de Estabilidade, não cresce há dez anos e tem um desequilíbrio estrutural nas contas externas que gera uma dívida, entre Estado e particulares, que ninguém sabe como ou quando poderá ser paga. Sucede que quando a Alemanha aceitou trocar a reunificação pelo euro – assim abandonando o seu adorado marco – impôs apenas uma parte das condições necessárias à criação de uma união monetária realmente saudável. Muitos na altura defenderam – até por se oporem ao euro – que, para 16 Estados partilharem a mesma moeda, não bastava limitar os défices e as dívidas públicas, era também necessário harmonizar políticas fiscais e, sobretudo, criar mecanismos de transferência de recursos para acudir a situações de crise regionais. Isso não foi feito e, é bom dizê-lo com clareza, não podia ser feito, pois iria contra a vontade dos cidadãos da maioria desses 16 Estados. Para além disso, o défice de legitimidade democrática das instituições europeias não teria autorizado então, como não autoriza hoje, que se transfiram para as autoridades da UE mais competências de tipo federal.

O resultado desta união monetária coxa está à vista nesta crise. A Alemanha, mais alguns vizinhos bem-comportados, mantiveram-se fiéis aos velhos princípios do marco, uma moeda forte que, para coexistir com economias competitivas, implicava que estas aumentassem constantemente a sua produtividade. Isso foi exigindo reformas que uns fizeram e outros não. Os que não fizeram já estão ou estarão na situação da Grécia e de Portugal, isto é, prisioneiros de uma moeda única que não pode ser desvalorizada e encerrados numa união monetária onde todos são supostamente iguais mas há uns mais iguais do que outros quando chega a hora de ir pedir dinheiro emprestado. Durante quase dez anos foi possível iludir esta situação devido à descida das taxas de juro e a os mercados tratarem os países da periferia quase tão bem quanto tratam a Alemanha. Esse tempo acabou e não será apenas uma sucessão de bail-outs que o fará regressar. O que quer dizer que, pelo menos num futuro próximo, os PIIGS serão sempre PIIGS. E por culpa própria.

Está na moda, mesmo assim, culpar a Alemanha e Angela Merkel pelas dores dos mal-comportados. O colunista do Financial Times Martin Wolf tem sido mesmo uma das vozes mais críticas, chegando a exigir aos alemães que consumam mais bens importados sem se perceber bem por que hão-de estes trocar os seus BMW por Fiat ou Renault. Já o historiador Timothy Garton Ash pede um gesto de grandeza à chanceler: “Frau Bundeskanzlerin, a História está a bater à sua porta”, escrevia ontem no The Guardian. E que pede ele? Que, em nome da Europa, a Alemanha se torne 30 por cento “menos alemã”. E que os outros países consigam ser 70 por cento “mais alemães”. Sinceramente, não acho que seja um pedido muito razoável. Também não creio que, ao contrário do que tem sido sugerido, o problema esteja na coragem ou falta de coragem de Frau Merkel para enfrentar o descontentamento do seu eleitorado. O problema está mesmo em que ninguém sabe realmente o que fazer. Um bom exemplo disso mesmo é dado pela possível passagem do actual fundo europeu de emergência a um mecanismo permanente de assistência a países em dificuldade. Os especialistas convergem em que tal mecanismo deva co-responsabilizar o sistema financeiro em caso de crise num determinado país, até para obrigar esse sistema a actuar de forma mais cuidadosa. Porém, ao falar no assunto, Merkel provocou uma tempestade nos mercados apesar só se preverem mudanças para 2013. Sugeriu-se logo que devia ter ficado calada, mas não se disse quando deveria, em alternativa, abrir uma discussão que será necessariamente demorada no seio da União Europeia. Advogou-se, no fundo, o adiamento e dissimulação.

Mais uma vez, também agora alguma coisa será feita. Talvez antes, talvez depois, de chegar a vez de Portugal ser obrigado a pedir ajuda. No entanto, a verdade é que a moeda única parece presa no seu próprio labirinto, incapaz de servir ao mesmo tempo aos países do marco e aos países do escudo ou do dracma. É insustentável, por exemplo, a manutenção das actuais diferenças de juros no seio da mesma união monetária – umas economias não podem estar a financiar-se a dois por cento e outras a sete por cento. Mas nenhuma solução que não passe por um “governo económico” inatingível no actual quadro político – e, a meu ver, intolerável porque insufragável pelos cidadãos – alteraria, se alterasse, os actuais desequilíbrios. Por isso vou escrever o que nunca pensei escrever: é tempo de pensar em alternativas à actual arquitectura da moeda única para que o seu eventual fracasso não arraste consigo a obra muito maior e mais importante que é a União Europeia. 

 (jmf1957)
Nov2010


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terça-feira, 17 de maio de 2011

Milhares de tarrafais

Domestic Violence Free ZoneImage by QXZ via Flickr

António Campos


A insegurança e a criminalidade são temas muito do apreço dos que vivem do medo. Não que sejam irrelevantes. Eles limitam o bem mais precioso para qualquer sociedade que se queira decente – a liberdade – e são sintomas da desigualdade. Mas, quase sempre, aqueles que as têm como prioridades do debate político usam-na para nos oferecer como cura a própria doença: limitar ainda mais a nossa liberdade e promover, através do estigma, a desigualdade. Não é por isso de espantar que a criminalidade que não sirva esta agenda raramente esteja na ordem do dia.

Exemplo: a violência doméstica, que tem as mulheres como vítima quase exclusivas. Passa-se dentro de portas, não parece perturbar o quotidiano dos que não a experimentam e destrói essa cândida ideia que temos de nós de próprios enquanto sociedade moderna e evoluída. Este ano já tirou a vida a trinta mulheres. E estes são apenas os casos limite. Os espancamentos, as limitações violentas à liberdade individual, as humilhações que destroem até aos ossos a auto-estima de tantos seres humanos são banais. Fazem parte de um quotidiano que olhos e ouvidos de tantos decidem ignorar. Porque entre marido e mulher não se mete a colher.

Escondida entre quatro paredes, a violência doméstica deixa a vítima na mais completa e angustiante solidão. Muitas vezes corroída pela culpa, numa sociedade que ainda aceita com naturalidade que alguém pode ser propriedade de alguém. Que infantiliza as mulheres, tratando-a como um mero adereço. Que as trata como palradoras compulsivas, fadas do lar ou meninas mimadas viciadas em compras, que cada classe social trata dos seus próprios estereótipos. Que convive bem com a figura da “primeira-dama”, uma espécie de penacho de um Chefe de Estado. Que pergunta a uma mulher como concilia a vida familiar com a vida profissional mas nunca se lembra de fazer a mesma pergunta a um homem. Que trata a infidelidade masculina como sinal de virilidade e a infidelidade feminina como sinal de promiscuidade. Que paga, em média, mais aos homens do que às mulheres pelo mesmo trabalho. Que, tendo mais mulheres a sair das faculdades, não as deixa chegar aos lugares de topo, porque homem que é homem não aceita ordens de mulher. Que vê a função de “doméstica” com uma estranha naturalidade e a de “doméstico” como uma bizarria.

Uma mulher que me ensinou desde o meu nascimento muito do que sei fez-me saber sempre uma verdade fria: só é realmente independente e livre quem pode garantir o seu próprio sustento. Quando se pode fechar a porta sem olhar para trás. Por isso, podemos mudar muitas leis (e, ao tornar a violência doméstica num crime público, deixámos claro que, como comunidade, não aceitamos ficar em silêncio), mas nada conseguiremos enquanto as mulheres não conquistarem a igualdade como profissionais, trabalhadoras e cidadãs.

Só aí a violência doméstica deixará de ser uma questão de género. Só aí, milhares de homens demasiado inseguros para amar uma igual deixarão de conseguir transformar as suas casas em campos de concentração. Só aí conseguiremos punir estes selvagens como merecem. Só aí passarão a ser olhados com asco pelos seus vizinhos, amigos e familiares. Só aí ficarão sós até meterem nas suas fracas cabeças que ninguém pertence a ninguém. Só quando for maior vergonha ser um agressor do que ser “corno”, “banana” ou apenas civilizado, é que estriparemos do nosso quotidiano este crime que confunde amor com tortura. Só aí faremos justiça às trinta mulheres assassinadas em 2010 pelos seus companheiros, maridos ou namorados. No século XXI. Num país europeu.

Daniel Oliveira
Nov.2010

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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Educar

Photo of Paulo FreireImage via Wikipedia



António Campos


Gostaria de partilhar com o leitor os primeiros conceitos que formaram a ciência da Antropologia. Enquanto pesquisava, encontrei as melhores ideias do melhor educador que conheci, além de Paulo Freire: o meu antigo professor, já falecido, Meyer Fortes.

O seu sentido da educação era profundo. Há uma história sobre ele, não estou certo de a ter transferido já ou não, por isso volto a referi-la da forma e maneira que Meyer Fortes me contou: corriam os anos 40, de facto, em 1945 do século passado, estudava a etnia Tallensi do Ghana (antiga Costa do Ouro) do Norte e um membro de chefia Tallensi, contava-me um episódio que tinha acontecido dentro da sua família, uma das suas filhas tinha sido violada por um guerreiro, que são os que mais ordenam, defendem o povo, arriscam a sua vida pelos outros, especialmente nas eternas guerras com os Ashante, os seus vizinhos, quer um quer outro entravam em terras que não eram deles, para pilhar. Numa dessas pilhagens a sua filha tinha sido abusada por um guerreiro Ashante. Contra os guerreiros nada pode ser feito, pelo que teve que aceitar o facto e adoptar a neta como filha. Como, aliás, acontece em muitos povos, os mais novos são filhos de todos os pais jovens se são da mesma fratria ou clã. Entre os Mapuche do Chile, no outro extremo do mundo, que tenho estudado durante anos, a família é semelhante, como entre os Massim da Melanésia, analisados por Malinowski ao longo de mais de dez anos, entre 1914 a 1922. Morava com eles, como Meyer com os povos mencionados e eu, com o clã Picunche da Nação Mapuche que habita no Chile e na Argentina.

Esta história, foi-lhe contada em frente de uma neta de poucos anos de idade. Puritano como era, Meyer perguntou ao Chefe, se era conveniente tratar de assuntos como este em frente de uma criança. Surpreendido, o seu interlocutor perguntou: e porque não? Por acaso ela não tem o direito a saber a história da sua família e a do seu povo? Como quer que narre a realidade e assim ela aprenda os factos que acontecem entre eles e que, se um dia lhe acontecer, saiba o que fazer. Saiba respeitar a quem merece e defender-se de quem não merece. Foi uma lição para Meyer. Aliás, foi assim que soube também como os Tallensi, tal como fazem os Ashante, ensinam cálculo de uma maneira sábia. Ainda meninos, são-lhes oferecidos pintainhos que os pequenos devem tomar conta e ao juntarem uma boa quantidade, as galinhas são trocadas por pequenos bisontes, porcos ou javalis, forma de acumular riqueza entre estes povos, e assim, na hora de casarem e formar um grupo doméstico, têm bens suficientes para tratar da sua família na terra comunal do clã de qualquer de um destes povos. Os mais novos aprendem agricultura e, já púberes, os guerreiros escolhem os mais fortes e ensinam-lhes artes marciais. A categoria adquirida é das mais altas, como narra o meu antigo professor, no seu texto de 1938: Sociological and psychological aspects of education in Taleland, na revista África, Vol. XI, nº 4, Londres, número especial.
Parece, caro leitor, que a educação entre estes povos é analógica, por outras palavras, a aprendizagem é por repetição, sistema abandonado pelas formas modernas de educar, que introduziu a dialéctica dentro dos estudos: parte da aprendizagem como é analisada por mim em 1994: educação, ensino ou aprendizagem?Texto ao que pode aceder aqui.

Educar é transferir o saber de uma geração para outra, cada vez mais corrigida e enriquecida pelos novos saberes. Parte deste processo, é ensinar lógica analógica; outra é deduzir ou lógica contraditória, aprendida pelos mais novos ao comparar um facto com outros diferentes (como a história de Portugal e a das suas colónias). Como narrativa, é a melhor forma de entender a realidade sócio histórica de um povo. Ou, para aprender aritmética, levar as crianças para o terreno para medir a terra, saber quantas sementes podem ai ser enterradas, calcular o tempo das colheitas ou ser-lhes explicado quantos grãos de trigo cabem dentro dos sulcos, a distância ente os grãos, para não ter uma colheita tão junta, que não se consegue cortar ou segar. Um exemplo: 8 foices de segar trigo são 4 foices de roçar o produto.

Educar, porém, é domesticar a mente selvagem da criança que ainda não sabe calcular. A melhor escola é o trabalho, mas a lei manda ir à escola e estudar como nas academias da Grécia Clássica: textos, explicações, mas sem prática nenhuma.

Como tenho dito noutros textos: educar é um conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito; conhecimento e prática dos usos da gente fina. Ou ainda, instrução, polidez e cortesia.

A primeira cortesia devia ser dos órgãos de soberania, para não mudar, como entende, os docentes de uma para outra escola nos anos seguintes. Sobretudo os docentes de Educação Especial que sabem ensinar crianças incapacitadas, favor que a nossa soberania nunca tem feito: cada ano os locais de ensino são diferentes sem as assembleias de pais serem consultadas. Assim, deparamo-nos com uma realidade injusta, fundamentalmente, para a criança, que para ser incentivada a aprender é punida na escola ou em casa…sítio em que falta a paciência aos adultos e o desejo de estudar à criança. A casa é para viver, a escola, para aprender.

Raul Iturra
Nov.2010

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terça-feira, 10 de maio de 2011

Atoardas, falatórios, boatos e até calúnias...

Rumor Has It…Image via Wikipedia



António Campos


Sempre que alguém anuncia que vai procurar explicar como nasce, cresce e morre um boato, vou logo a correr, pressuroso, procurar perceber o que está por detrás do permanente sucesso do meio de comunicação mais antigo do mundo, baseado no” diz-se” e “consta”.

Em “Mitos Urbanos e Boatos”, a jornalista Susana André afoita-se numa investigação em torno de boatos consolidados, nacionais e estrangeiros, conta histórias de medos, de sexo, de ocorrências fantásticas, de assassinatos de carácter, guerras entre empresas, presunções, investidas e insidias com racismo, religião, ajustes de contas; ilustra até com histórias que se contam sobre gente famosa e que não têm nenhuma base de sustentação (A Esfera dos Livros, 2010.O que singulariza o boato? Algo de quem ninguém sabe a fonte, é posto a correr nas ruas, nos locais de trabalho, na internet.

Por mais que se procure o seu controlo, o boato, que goza de má fama, mas que nos faz pôr o nariz no ar, às vezes nasce de confusão ou mesmo de uma réstia de fundamento, sobrevive e eclode como vírus potente. É um fenómeno social incontrolável. Todas as explicações em torno do boato ficam obrigatoriamente incompletas: podem justificá-lo como catarse, podem corresponder a pavores que mobilizam multidões, actuando premonitoriamente, à frente dos investigadores, podem ser peças de propaganda, podem ser o que os antropólogos, sociólogos e psicólogos possam supor, mas nunca o boato cabe numa norma plausível e universal, é o media mais imprevisível de todos os tempos.

Susana André começa por se debruçar sobre os mitos urbanos, pequenas histórias com argumentos fantásticos, com difusão à margem da comunicação social. São relatos que muitas vezes provocam angústia ou apreensão, insegurança, pavores sociais. Como ela escreve: “Para garantirem a eficácia da propagação, os mitos urbanos vestem muitas vezes a capa do bom samaritano; simulam alertas sobre situações de alegado perigo e apelam à necessidade de criar correntes de solidariedade que ajudem a travar os acontecimentos que narram: agulhas infectadas nas cadeiras dos cinemas, tatuagens infantis impregnadas de LSD, assassinos nos bancos traseiros dos carros”. São apresentados como alertas. Parecem cativar através de apelos à transmissão de muitos outros, são muitas vezes tomados como factos verdadeiros. São relatos instáveis, misturam conto e boato, lenda e fantasia, dados aparentemente credíveis e mentiras monumentais. Como é evidente, estas lendas urbanas pesam na opinião pública desacautelada, que muitas vezes se rende facilmente à aparente boa vontade de quem nos vem alertar, até disfarçado de entidade científica.

Mudando de agulha Susana André passa para os escândalos sexuais, o boato em que o político, o futebolista ou cançonetista têm envolvimentos com foros de escândalo. Também aqui ninguém afiança a proveniência da notícia, a origem é indetectável. O mesmo se dirá de heróis, ídolos, galãs, políticos que afinal não morreram e estão vivos, quem desapareceu foi um sósia: é um universo de especulações onde cabe Adolfo Hitler, Paul McCartney ou Jim Morrison. Passando para o noticiário e para a imagem, a autora lembra-nos o arrastão de Carcavelos, o que terá sido dito durante uma entrevista que depois ninguém consegue confirmar, a capacidade persuasiva do locutor que consegue arrastar a multidão até à histeria e ao pavor (exemplo clássico da emissão de 30 de Abril de 1938 em que Orson Welles simulou uma invasão marciana).

A internet é hoje o maior alfobre de atoarda e boataria. Como escreve a autora, “Ao abrigo de pseudónimos e moradas falsas, o ciberterrorismo é uma figura com futuro. Na terra dos blogues, redes sociais, virtuais e mensagens electrónicas, as velhas teorias da conspiração refrescaram-se e reproduziram-se”. Vídeos com montagens de figuras públicas, acusações de plágio, apelos de ajuda humanitária (caso dos pijamas para o IPO, um pedido que já tem barbas). Temos igualmente os boatos cor-de-rosa (Teresa Guilherme e Manuel Goucha Soares, Pinto da Costa e Maria Elisa…), a infinidade de boatos em torno dos famosos (onde estão sepultados, se fizeram filmes porno, qual é a verdadeira identidade Marilyn Manson…), das famílias reais, dos políticos (que por vezes não resistem à infâmia das calúnias e põem termo à vida). Há também a dimensão do boato que serve para atirar abaixo a concorrência, para pôr os consumidores apavorados: margarinas cancerígenas, hambúrgueres feitos com minhocas, a Coca-Cola apresentada como ultra desinfectante, os antitranspirantes que provocam cancro, os tampões íntimos que são tóxicos, etc., etc. Numa última e fértil linha da boataria, temos as conspirações e as distorções, a velha teoria da conspiração centrada nos judeus, jesuítas e maçons; mas também a dúvida de que o acontecimento científico é obra da manipulação (caso da chegada do homem à lua).

Como se vê, é escusado procurar uma linha lógica para a boataria: continua por se saber como floresce e se expande qualquer coisa que não é mas é tomado como autêntico, a capacidade de mentir e persuadir durante dias, meses e anos, há boatos que desaparecem e reaparecem com a mesma capacidade atordoar ou desorientar (é o caso da falsa lista dos aditivos cancerígenos) isto para já não falar no maquiavelismo das publicações cor-de-rosa, na tentativa de destruir o adversário político ou de manter a internet enxameada de sinais vermelhos. Boato é isto mesmo, um rumor circulante, muitas vezes corrosivo em que a atitude mais recomendável, em muitas situações, é, pura e simplesmente, não lhe dar ouvidos… ou tratá-lo como boato.

Beja Santos
Nov2010

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Clima de Guerra ou a Guerra do Clima 2

MexicoImage by NASA Goddard Photo and Video via Flickr

António Campos


O furo do Golfo do México: a ambição para além da razão.

O acontecimento mais marcante do ano no mundo, em termos de desastre provocado pelo homem, será provavelmente a fuga de crude do furo petrolífero no golfo do México, ao largo dos EUA, da responsabilidade da empresa petrolífera BP. Depois do tufão Katrina, na mesma zona (quiçá fruto também de experiências mal sucedidas), esta catástrofe ameaça pôr em causa a vida naquela parte do globo e poderá alastrar-se para além dela de forma descontrolada [4].
A autorização para a exploração foi especialmente dada por Obama por se tratar de uma zona de captação profunda onde não havia qualquer experiência anterior nem esquemas de segurança adequados. Embora as autoridades norte-americanas tivessem sido alertadas para isso não deram muita importância ao caso. Após algum tempo de exploração a plataforma explodiu e a fuga de crude para o mar entrou em descontrole total.
As várias tentativas de estancar o derrame não produziram qualquer resultado. O que ficou demonstrado foi que, com uma tecnologia totalmente virada para a guerra, quer norte-americanos quer ingleses pouco ou nada sabiam sobre a forma de curar uma ferida daquele tipo. A tão badalada superioridade técnica anglo-saxónica ficou bastante abalada. Não obstante, com a arrogância que lhes é própria, prosseguiram galhardamente, exibindo a sua ignorância e leviandade. Alguns chegaram ao extremo ridículo de acusar outros países de um hipotético ataque aos EUA.
O escândalo tomara tais dimensões que na tentativa de esconder esta incapacidade e a gravidade da situação os jornalistas foram proibidos de informar sobre o assunto. Enquanto as imagens autorizadas oficialmente, repetidas à exaustão nas televisões de todo o mundo mostravam uma aparente pequena fuga, as poucas notícias que se conseguiam não oficialmente iam revelando que a situação se agravava de dia para dia e a solução para estancar o derrame estava cada vez mais longe. Especialistas chegaram a afirmar que se estaria não apenas perante um simples acidente de percurso, embora difícil de resolver, mas face ao maior acidente ecológico jamais ocorrido no país, senão mesmo o mais grave de sempre em todo o mundo. Se a principio se falava numa fuga diária equivalente a cerca de um navio tanque, mais tarde esse número passava a quatro.
Após a anunciada solução final para o caso ter mais uma vez redundado em fracasso, em Julho, afirmaram alguns especialistas que, longe de se tratar de um simples furo, a verdade era que o crude jorrava descontroladamente por uma ou várias fendas que avaliavam ser já do tamanho do Himalaia. Por baixo estaria uma toalha de proporções gigantescas, cujo esgotamento não estava à vista. Esses técnicos previam que, a manter-se esse ritmo de fuga, o que seria bastante provável, ela iria durar anos e a mancha inundaria todas as costas do golfo, passando depois para o Atlântico arrastada pela corrente do Golfo. Prognosticavam ainda que, se isso acontecesse, o mais provável seria a eliminação irreversível de toda a vida no Atlântico Norte. Chegada à costa ocidental da Europa, estas tenderiam a gelar. A Inglaterra seria a primeira vítima.
Nunca mais houve notícias excepto a de que o problema estava solucionado. Mas a suspeita de que os acontecimentos ultrapassaram as capacidades humanas adensa-se. Hoje um silêncio sepulcral como os que precedem a revelação das más notícias alastra como a própria mancha de crude. Organizações ambientalistas, tão lestas em outras ocasiões, estão mudas e quedas, segundo se diz, para não afrontarem o gigante BP.
Nada parece fazer parar a ambição desmedida do capital na rapina incontrolada deste esgotado planeta. Desde a exploração mineira, á petrolífera, vale tudo. Esta ganância desenfreada conta com a cumplicidade de muitos governos ditos democráticos.
O número de derrocadas em explorações mineiras seja na China, seja no Chile, bem como os desastres em plataformas petrolíferas, já para não falar nos desastres ignorados que ocorrem diariamente nas mais diversas obras por todo o planeta, mostra bem esse desprezo do capital pelas condições de trabalho a que são sujeitos os trabalhadores.
Como em tantas ocasiões ao longo da história, mais uma vez a ambição se sobrepôs à razão
.
HAARP: uma nova arma de destruição maciça?

Mas quando julgávamos que tudo tinha já sido dito eis que surgem revelações sobre prováveis novas causas de alterações climáticas. Desde há alguns anos que havia suspeitas sobre o desenvolvimento pelos EUA e provavelmente outros países, de um novo dispositivo técnico de ionização da atmosfera, denominado HAARP, que provocaria fenómenos geo-climáticos, como sismos, furacões, tsunamis, etc., com a aparência de serem de origem natural [5].
Segundo um alto quadro da marinha russa, esse dispositivo seria uma nova arma que estaria em desenvolvimento tendo em vista uma guerra climática global. Ela permitiria lançar o caos no país a atacar, enfraquecer as defesas e facilitar a subsequente invasão. As últimas catástrofes, em várias partes do globo, seriam já consequência de experiências nesse sentido. O canal televisivo Canal História apresentado em Julho deste ano, afirma mesmo que tal dispositivo teria já terminado a fase de instalação e experimentação e estaria a ser utilizado por todo o mundo. As instalações seriam localizadas em pelo menos cinco locais, sendo dois em território dos EUA, um numa base norte-americana na América Central, outra algures na Europa e uma última na Ásia.
Foi o sismo do Haiti que despoletou a questão da HAARP com mais intensidade. Deu nas vistas o aparato militar norte-americano que nas vésperas do sismo cercava o território, cujas tropas, logo após este suceder se apressaram a desembarcar. Não para levarem ajuda humanitária, mas para garantirem a segurança! No próprio momento do sismo os comandantes militares já se encontravam na embaixada norte-americana, por sinal um edifício de construção anti-sísmica. Daí á suspeitar-se que o sismo tenha sido provocado foi um pequeno passo.
Revela o analista francês Thierry Meyssan [6] que as experiências com a nova arma teriam tido início nos finais da 2ª guerra mundial por técnicos neo-zelandeses para provocar tsunamis contra os japoneses. Prosseguidas por australianos foram depois desenvolvidas pelos norte-americanos que lhe atribuíram um grau de importância equivalente ao da bomba atómica. Durante a guerra do Vietname a nova tecnologia teria sido usada com eficácia do ponto de vista técnico/climático, mas com pouco êxito militar. A partir de 1975 os soviéticos teriam desenvolvido um programa pacífico com o objectivo de provocar pequenos sismos de molde a «esvaziar» os grandes sismos da sua energia e evitar maiores catástrofes. Após a derrota da URSS, com Boris Yeltsin, os técnicos e os laboratórios soviéticos teriam sido comprados pelos militares norte-americanos e integrados no programa HAARP.
Alguns usos possíveis da nova arma teriam sido na Argélia e na Turquia, mas o caso mais discutido é o do sismo de Sichuan na China em 12 de Maio de 2008.
Nada disto surpreende. Considerando os antecedentes históricos e a ambição de domínio planetário largamente expressa pelos EUA e seus aliados, não admira que todos os meios sirvam esses fins.
Porém, nada disto nos poderá fazer esquecer que o urânio empobrecido continua a ser derramado sobre iraquianos, afegãos e palestinianos, provocando milhares de mortes imediatas e doenças genéticas por gerações, e que no Vietname, trinta e cinco anos depois da guerra, o Agente Laranja despejado sobre os seus habitantes ainda hoje continua a matar.

Conclusão

Voltamos à questão inicial. Não há catástrofes naturais. Existem sim fenómenos naturais que a acção do homem transforma em catástrofes. A maioria delas por negligência e quase todas por ambição de alguns, aproveitando-se, como os abutres, das circunstâncias e da desgraça alheia. Mas para esses isso parece já não chegar. Se as catástrofes dão lucro porque não ampliar o mercado, provocando-as? E já agora – autêntico dois em um – que tal utilizar esse conhecimento para fazer a guerra? Aí temos mais uma vez a inteligência humana posta ao serviço da perversidade e da insanidade. Não para salvar as pessoas das catástrofes, mas para submeter ainda mais aquelas que sobrarem vivas.
Como sempre, por trás de tudo isto, o suspeito do costume, a plutocracia, o governo dos ricos, um relativamente reduzido grupo de fanáticos que se instituiu a si próprio como guardião da civilização em todo o mundo, e se julga imune á barbárie que provoca. Como já é, infelizmente, habitual, os EUA e o seu satélite Israel a proclamarem inconscientemente uma guerra santa como salvação da humanidade, que bem poderá ser a última. Como se, após terem aberto a Caixa de Pandora pudessem escapar à maldição dos Deuses, numa qualquer Arca de Noé espacial.
Até quando o mundo o irá permitir?


Notas:
[1] Principais catástrofes ambientais durante o ano:
Dez.2009 - Um tufão como nunca antes fora visto em Portugal atinge a região do oeste de Lisboa destruindo tudo à sua passagem.
Janeiro – Brasil - derrocadas provocadas por chuvas torrenciais em Angra dos Reis no causam dezenas de mortes.
– o Haiti é atingido por um terramoto grau 7 causando dezenas de milhar de mortos. - 200 mil (em 25/8)
Junho
– Brasil (Palmares, Recife) – enxurrada fluvial com 15m de altura arrastou milhares de pessoas e casas.
- Rio de Janeiro - mais de 227 vítimas fatais e mais de 52 mil pessoas desabrigadas e desalojadas.
Agosto
–China: avalanches – Deslizamentos de terras no noroeste da China provocaram 702 mortos e 1148 desaparecidos.
- Rússia: seca e fogos queimam milhares de hectares chegando a arder resíduos radioactivos de outra catástrofe anterior em Chernobyl.
- Japão - Terramoto de 7,2 grau
- Vanuatu terramoto de 6,2 graus
- América Latina em geral - sismos quase diários em vários países da cordilheira dos Andes.
- Chile: Desastre mineiro - Consequência lógica do modelo de saque, depredador e explorador, imposto desde o golpe de 1973 e continuado em «democracia».- Alirio Herera (La Haine)
- Paquistão – cheias. Cerca de 1/5 do país debaixo de água. Milhares de mortos. Milhões de desalojados.
- Índia – inundações. Milhares de desalojados
- Inundações na Europa central e secas e fogos em outros países como Portugal.
[2] A investigadora norte–americana Naomi Klein no livro «A doutrina do choque: a Ascensão do Capitalismo de Desastre» chamou a este modelo de capitalismo, que se aproveita da desgraça alheia, «Capitalismo de desastre». «Essa exploração das situações de crise afectam as colectividades humanas, paralisa- nos diante do medo, e nos torna impotentes diante da realidade».
[3] (http://www.youtube.com/watch?v=aTf0h3nobAs)
[4] - F. William Engdahl, - «A fuga de petróleo pode perdurar anos se não for travada», in Resistir.info.
[5] Ver Michel Chossudovsky, «Owning the Weather” for Military Use» , Global Research, September 27, 2004.
[6] Voltairenet.com – «Haiti et l’arme sismique»)
Bibliografia
- Thierry Meyssan, “1997-2010” : L’écologie financiére”, in Voltairenet.org
- Zavier Cano Tamayo, “A verdadeira origem da tragédia no Haiti”, in Resistir. info.
- Marcello Sales, “As derrocadas no Brasil”, in Carta Maior
- Michael R. Kratke - “BP – uma bomba relógio no sistema financeiro internacional.”
- Michel Chossudovsky, “O papel de Israel no desencadear de um ataque ao Irão.”

http://www.odiario.info/?p=1860 
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Guilherme Alves Coelho
 Nov.2010

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terça-feira, 3 de maio de 2011

Clima de Guerra ou a Guerra do Clima

The Catastrophe SnailImage by dklegman via Flickr

António Campos


Uma sucessão crescente de catástrofes “naturais”.

2010, foi mais um ano de catástrofes ambientais suspeitas. Por todo o mundo se bateram recordes de inundações, sismos, fogos, secas, mortos, feridos e desalojados.
Se estes acontecimentos foram surpreendentes pela sua quantidade e amplitude, eles inscrevem-se porém numa série incomum de fenómenos geo-climáticos semelhantes, que se foram multiplicando ao longo dos últimos anos, um pouco por todo o mundo, a uma cadência e com uma magnitude crescente de ano para ano. [1]
Especialistas, técnicos ou simples cidadãos, interrogam-se sobre as razões destes acontecimentos. Serão consequências das tão propagandeadas e pouco debatidas alterações climáticas? Serão fruto da negligência e da ganância sem limites? Ou será ainda algo mais grave?
O ano de 2010 veio, de certo modo, dar resposta a muitas destas interrogações; veio reforçar as opiniões anteriores de muitos especialistas acerca da responsabilidade humana na maioria das catástrofes ditas naturais; veio revelar facetas da intervenção humana até agora pouco conhecidas; veio confirmar que muitos desses desastres até proporcionam lucros fabulosos; veio levantar a suspeita de que por esse motivo, e de acordo com a lógica do mercado, alguns possam ter sido provocadas propositadamente para obtenção de lucro [2]; e veio finalmente revelar que esse procedimento já estava a ser levado às últimas consequências com um objectivo mais vasto e perverso: a sua utilização como arma de guerra.

As cheias na Madeira: um exemplo de “catástrofe natural”.

O caso mais grave ocorrido em território português deu-se no inicio do ano na Ilha da Madeira. Uma conjugação pouco habitual de chuvas intensas num curto intervalo de tempo, provocou o transbordo das águas das ribeiras e o arrastamento de toda a espécie de detritos, não só os naturais - rochas, lama, árvores, etc., mas também, e principalmente, os construídos - estradas, pontes, casas, veículos, para além de animais e pessoas. Segundo os últimos balanços terá havido pelo menos 42 mortos e vários milhões de euros de prejuízos. Ainda de acordo com algumas informações, os prejuízos materiais e humanos serão muito superiores a anteriores situações semelhantes.
Situada em pleno Atlântico, a ilha da Madeira é uma das duas únicas regiões autónomas de Portugal. Vive essencialmente do turismo e do dinheiro dos contribuintes do Continente. É um paraíso fiscal. A sua orografia mostra um pico e encostas íngremes em todos os quadrantes, pelas quais descem inúmeros cursos de água: as ribeiras. A sobreocupação destas encostas com construções é um facto conhecido.
Corre na internet um pequeno documentário apresentado há 2 anos na TV, em que vários técnicos alertavam para o perigo das construções que continuavam a erguer-se na ilha em leitos de cheia, em clara violação da lei [3]. Bastaram dois anos para confirmar a justeza desses avisos.
Porém, para os dois responsáveis máximos por estes assuntos na Madeira - o Presidente do Governo Regional e o Presidente da Câmara do Funchal - estes avisos não passavam de calúnias de «alguns irresponsáveis». Na sua perspectiva tudo estaria em ordem. Tudo estaria nos lugares certos. Á excepção da natureza.
Como é sua missão, rapidamente a Comunicação Social corporativa se apressou dar cobertura a esta versão e a apresentar a situação como uma «catástrofe natural». Para ela solicitavam a habitual onda de solidariedade em part time, vulgo caridade, afastando assim, subliminarmente, qualquer responsabilidade humana no assunto.
O planeamento do território, a prevenção, bem como o seu cumprimento rigoroso, não fazem parte do ideário do capitalismo, seja ele aplicado por socialistas, democratas-cristãos ou social-democratas, como é o caso. Sem planos urbanísticos a especulação imobiliária avança melhor. E com ela aumentam a incúria e o desleixo, multiplicam-se os erros. Se algo correr mal, como agora, serão assacadas responsabilidades à natureza. Tal procedimento até pode ser útil: fazer reverter a reconstrução não como prejuízo, mas como vantagem para a economia (de alguns). Ao contrário do aforismo popular, a sua máxima parece ser «mais vale remediar do que prevenir».

(continua)

Guilherme Alves Coelho
Nov.2010

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