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violência ou criminalidade intra-familiar… no natal
António Campos
esbofetear
crianças é mais comum do que se pensa, ainda em dia de Natal
Violência intra-familiar
não é um tema fácil de abordar. Mas acontece até em dia de Natal. Pensa-se
sempre que um grupo de parentes ou seres humanos relacionados entre si, por
laços de consanguinidade ou de afinidade, é um grupo feliz. No seio do grupo,
cabe aos adultos protegerem os mais novos orientando-os desde muito cedo
na vida, pelas sendas do amor, o respeito filial ou o respeito que os pais têm
pelos filhos. Pelo menos, é assim que eu penso.
Mas a realidade parece
ser outra. Não foi por acaso que coloquei a imagem de uma criança punida, com
as marcas de uma bofetada recebida na sua pequena cara. Bofetada de quem se
desconhece a autoria e o motivo da punição material, reflectida na cara triste
e sofrida de quem não entende qual o mal que fez para receber tamanho castigo.
Castigo reiterado ao longo do tempo pela pequena da imagem, e por muitas outras
mais.
Essa bofetada marca pelo
menos três aspectos da vida da infância. A primeira é visível e não precisa ser
comentada, a imagem fala o que as palavras da pequena não sabem dizer porque as
desconhece ou, ainda, porque não espera que o seu adulto a use contra ela. Essa
bofetada pode ser o resultado de quem tem raiva contra si próprio e desabafa
nos mais pequenos, como comenta Sigmund Freud em 1905 em húngaro, traduzido
para inglês por Hoggart Press, Londres, em Obras Completas, Volume VII,
1953: Three essays on Sexuality, ou Melanie Klein em: Inveja
e Gratidão (1943 em alemão, 1954 em inglês e em luso brasileiro, 1991(…).
Textos todos que
defendem a criança das ameaças dos seus adultos, que esperam delas
comportamentos formais, gentis e de uma responsabilidade mais além dos seus
curtos anos. Este tipo de violência, é, para mim, um crime não apenas contra o
seu corpo, como contra os seus sentimentos. Sentimentos que devem converter
essa criança em adulto triste, deprimido e pouco feliz com a vida. E o círculo
continuará a ser repetido por ter aprendido em tenra idade que os pequenos
devem ser ensinados às chicotadas e sem nenhum respeito por tudo o que lhe
falta saber.
Bem sabemos que a lei
protege a infância com leis especiais, veja-se, para o caso português, a Lei da Protecção de
Crianças e Jovens em Perigo, Nº 147 de 1999. Até esse dia, apenas o Código
Civil imperava, falando unicamente de filiação, heranças e tutorias nos artigos
1776 e seguintes, ignorando absolutamente essa realidade de trair a infância,
como se na sociedade nada acontecesse em relação às punições mencionadas.
Este pequeníssimo
ensaio, é apenas um rascunho do livro que preparo sobre a criminalidade
intra-familiar, que é, de forma ignorante, denominada violência doméstica. Nem
sempre acontece entre as famílias, mas há mais maus tratos de palavra ou de
obra, do que o que a lei quer reconhecer. Andreia Sanches, diz no jornal «O
Público» de 16 de Julho: 26 das 41 famílias analisadas com menores maltratados
não tinham mais de quatro elementos. “A configuração das famílias é cada vez
mais reduzida, há mais monoparentalidade, pode estar a haver uma degradação das
condições económicas nestas famílias.”
Que
fazemos nós?
Raul Iturra (adaptado)